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Crônicas
06/06/2019 - 06h38
Rotweiller? Nem pensar!
Leide Albergoni
 

Foi paixão à primeira vista! Era a coisa peluda mais fofa que eu já tinha visto. Não resisti, peguei no colo e não conseguia deixar de abraçar. Ele era cativante. Até mesmo o cheirinho de filhote sem banho, que eu sempre detestei, era irrelevante. Era discretamente arteiro: comeu meu chinelo na minha frente sem que eu percebesse. Ficava magoado quando brigávamos com ele, sendo que na primeira bronca, se escondeu debaixo da pia e tive que resgatá-lo com voz amorosa, enquanto ele suspirava magoado e me olhava de rabo de olho. Quando começamos a colocar junto com o pastor alemão de um ano, rosnava irritado com as lambidas desastradas do filhotão brincalhão. Impôs respeito ao pastor, mesmo com os dentinhos de leite.

Era a criatura mais amorosa que já vi na minha vida! Destruiu minhas barreiras de toque a cães, pois exigia meu carinho diariamente. Passar o pé não bastava! Um cafuné na cabeça era muito pouco, batia a cabeça enorme em minha perna pedindo mais! Queria carinhos mais consistentes, de preferência abraços. E eu o abraçava!

Com minha filha era amoroso e paciente. Ela o fazia de gato e sapato, e ele mal se mexia. Nos passeios pela vizinhança, impunha medo: as pessoas atravessavam a rua ao vê-lo. Mal sabiam que qualquer pessoa que se aproximasse do portão era recebida com lambidas e só entrava depois de fazer carinhos nele!

Mas não era muito ativo: não pulava, nem punha as patas da frente em superfície mais alta, em posição “em pé”. Com 1 ano e 2 meses, percebi que começou a mancar. Achamos que o pastor o tivesse machucado nas brincadeiras e o deixamos separados por algum tempo. Foi uma tristeza sem tamanho para ambos: cada vez que se encontravam, se lambiam e se aproximavam de forma amorosa.

Ao investigarmos, descobrimos uma infecção na pata traseira direita. O tratamento? Amputação. Gelei e tremi. Primeiro ao imaginá-lo sem uma perna. Logo em seguida, ao lembrar que a opção de meu marido não seria por amputar e sim sacrificar. O veterinário disse que vivem muito bem com apenas 3 pernas, mas o argumento de meu marido fazia sentido: este não é um cão de natureza “decorativa”, é um cão de trabalho. Fazê-lo viver com apenas 3 pernas seria negar seus instintos.

Fizemos todos os exames possíveis e o tratamento recomendado. Ele não reagiu e em 2 meses emagreceu quase 10 quilos. Era tanta dor, que ele passava o dia levantando-se de um lugar para deitar-se no outro. O diagnóstico final foi doloroso: somente a amputação resolveria, mas a sobrevida era de 6 meses a 1 ano. Meu marido era taxativo: sua missão era não deixar que o cachorro sofresse, e achava a recuperação da amputação muito dolorosa.

Na data marcada, ele o levou ao veterinário, que tentou demovê-lo a qualquer custo. Mas estava decidido e foi até o fim. Eu estava em viagem a trabalho, quando retornei para casa achei a coleira dele em um armário: desabei. Aos poucos me recuperei, até receber por WhatsApp o certificado de cremação.

Arrumamos um cão de outra raça para fazer companhia ao pastor, mas a conexão nunca será a mesma. Rocky cumpriu muito bem sua função no mundo: tirou meu pavor de cachorro grande e me mostrou que não é a raça que define a personalidade, e sim a maneira como o criamos.

Faz 3 meses que ele se foi, mas até hoje não consigo olhar para outro rottweiler sem me entristecer. Provavelmente nunca conseguirei. Adultos e ativos, então? Só consigo imaginar o que ele nunca será! Por isso, rottweiler nem pensar!


Nota do Editor: Leide Albergoni é professora da Universidade Positivo.

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