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SEÇÃO
Crônicas
01/07/2019 - 06h18
O ouro e a prata
Henrique Fendrich
 

Maico precisava ser encontrado. Foi por isso que ele dirigiu por oito horas até a sua cidade natal, onde também havia conhecido Maico. Ele não tinha ideia de como fazer para encontrá-lo. Podia ser que já tivesse se mudado de cidade, assim como ele havia feito. Mas isso seria uma coisa que ele só poderia saber se viajasse até a sua cidade. E foi o que ele fez.

Maico, Maico... Na verdade, não tinha certeza se era assim mesmo que se escrevia o nome dele. Podia ser que fosse Maicon, ou mesmo Michael. A grafia de um nome não tem nenhuma importância aos oito anos de idade. Oito anos de idade! Já fazia quase três décadas. Os dois cursavam a segunda série e se sentavam um ao lado do outro, mas isso durou só alguns meses. Maico já havia chegado no meio do ano, vindo de outro colégio. Logo vieram as férias e eles não mais se viram. No outro ano, seria ele quem trocaria de colégio. Nunca mais soube sobre Maico.

Se ao menos soubesse o sobrenome! Talvez já tivesse encontrado Maico nas redes sociais. Ele até procurou, visitou o perfil de todos os “Maicos” que diziam viver na sua cidade, mas nenhum deles era o seu, uns eram muito novos, outros muito velhos, e todos tinham fotos que não se assemelhavam nada com a imagem que dele guardava. Bem, talvez ele nem mesmo tivesse perfil em rede social, há muita gente que prefere não ter. Porém, sem ter o nome completo, nem mesmo o Google poderia ajudá-lo.

Chegou à cidade que um dia foi a sua. Achou tudo muito diferente, fazia tempo que não ia até lá. Não tinha mais razão para isso, nenhum membro da sua família ainda vivia lá. Mas havia se lembrado de Maico, e por ele é que voltava àquela terra. Mas não sabia bem por onde começar. Achou que o melhor era ir até o colégio em que ambos estudaram e onde se conheceram e conviveram, naquele curto período.

Iria até a secretaria da escola, iria levantar os registros da sua época, alguém certamente passaria as informações sobre aquele seu colega de classe. E foi então até lá, contou o que queria, mas se atrapalhou para falar. É que não queria revelar toda a verdade. O pessoal da secretaria achou muito suspeito esse interesse por informações de terceiros, ainda mais vindo de um desconhecido. A gente vê tanta coisa no noticiário, gente que volta ao colégio da infância e promove cada barbaridade... Ele tentou dizer que não era um estranho, que havia nascido na cidade, e que o seu avô havia sido ali um tradicional alfaiate, mas isso fazia muito tempo e ninguém lembrava do seu avô. Percebeu então o ridículo da sua situação, os funcionários olhando para ele como se fosse um maluco, e ele não sabia mais o que dizer e saiu de lá apressado. Tentaria outra coisa para achar Maico.

Então lhe ocorreu o cartório. Foi até lá com o propósito de realizar uma grande busca nos livros de registros de nascimento. Buscaria todos os Maicos que tivessem nascido na mesma época que ele, um ano antes, um ano depois. Um deles devia ser o seu. Se bem que ele também não tinha certeza de que Maico tivesse nascido ali, na mesma cidade que ele.

Explicou à funcionária o que queria, mas era bastante trabalho e não ficaria pronto no dia. Saiu então a passear pela cidade. Viu um banco. Talvez Maico fosse filho de um gerente de banco, gente que costuma se mudar de cidade. Não havia ele entrado no meio do ano letivo? Se não conseguisse nada no cartório, iria pesquisar sobre os gerentes de banco na mesma época em que ele estava na segunda série.

Não havia nada de interessante a fazer naquela cidade, a sua cidade. Era um estranho ali. Voltou ao hotel em que estava hospedado. Deitou-se então na cama e, desanimado, olhou para o seu celular: não havia nenhuma notificação de nenhum amigo.

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