Arquivo MAMM

Os primeiros registros sobre esta região foram encontrados nos documentos de bordo do comandante Américo Vespúcio, navegador italiano que explorou os oceanos à serviço dos reinos de Portugal e Espanha.

Em 20 de janeiro de 1502, foi avistada a Ilha que recebeu o nome de Ilha de São Sebastião. Em 1636 foi fundada a Vila que abrangia o território dos quatro municípios: Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela.

O alemão Hans Staden, em 1549, engajou-se como artilheiro em barcos que vinham para o Brasil. Na segunda viagem, ficou preso por nove meses na aldeia dos índios Tupinambás, onde hoje é Ubatuba. Quando voltou para a Europa editou um livro com essa sua experiência.

Esse trabalho, editado em 1557, foi muito importante, pois descrevia o dia a dia nas aldeias brasileiras e foi traduzido em muitos idiomas.

No Brasil “Viagem ao Brasil” foi editado em 1930 e está disponível na internet. Nesse livro, encontramos na página 145 as primeiras informações sobre os potes e utensílios de barro que eram usados pelos índios no Litoral Norte.

Com a chegada dos colonizadores, e dos escravos africanos, esse trabalho sofreu influência em algumas peças, mas ainda hoje é preservada a técnica usada pelos índios.

Em 1833, no mapa da Importação e Exportação da Vila de São Sebastião, consta no livro “Memória histórica sobre São Sebastião” 1959, de Antônio Paulino de Almeida:

“Entre os gêneros exportados avultavam os seguintes:

Café, arrôbas....41.165

Açucar....................196

... Além disso, muitos outros gêneros e muita louça de barro, sendo 10.360 panelas...”

Na literatura da região, há registros também que os caiçaras de Caraguatatuba, Ilhabela e até Ubatuba, vinham na Praia de São Francisco trocar o produto da pesca e da roça com utensílios e panelas de barro.

No final da década de 70, a artesã Adélia Barsotti da Ressurreição, moradora do bairro de São Francisco, seguia solitária na confecção de panelas e vasos de barro, ofício que aprendeu com seus pais.

Seu trabalho era apreciado por turistas e comerciantes que chegavam a comprar uma fornada inteira, para revender em São Paulo, arcando inclusive com o transporte que era difícil na época.

Durante muitos anos, ela ensinou para várias pessoas a sua arte, mas fui testemunha do seu depoimento:

“Quando eu morrer isso vai acabar, ninguém quer dar continuidade, nem meus filhos”.

Adélia Barsotti faleceu em 2003 com 86 anos. Em 2011 foi inaugurado pela Prefeitura Municipal um espaço cultural com o seu nome no bairro de São Francisco da Praia, essa homenagem foi um reconhecimento ao seu trabalho e a cultura caiçara.

São Francisco da Praia foi o primeiro bairro de São Sebastião, por isso até hoje as pessoas falam: “Vou pro Bairro...”. A tradição das panelas é motivo de orgulho para os moradores, que se intitulam “Paneleiros”. 

Hoje em dia, temos muitas ceramistas em atividade no Litoral Norte, em São Francisco da Praia, a Maria Aparecida Ivanov, que aprendeu o ofício com dona Adélia Barsotti.

Ela, que já tem ateliê há mais de 18 anos, atende na Rua Martins do Val, nº 400, onde os visitantes podem além de comprar as peças, acompanhar o processo de criação. Faz oficinas para os interessados.