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SEÇÃO
Crônicas
30/07/2019 - 07h33
Histórias sem sentido
Maria Cândida Vieira
 

Quando somos crianças, não temos o senso crítico devidamente desenvolvido e aceitamos muitas das histórias que nos são contadas. Depois, ao crescermos, vemos que elas não faziam muito sentido. E o pior é ver que muitas dessas histórias sem sentido têm propósitos educativos. Uma delas eu li na revista Nosso amiguinho, cujo título era A fofoca não recompensa. A protagonista da história era Cristina, menina muito fofoqueira que não conseguia se conter e contava a todo mundo os segredos dos outros. No fim da história, a professora pega um saco cheio de pedaços de papel, solta-os no vento e pede para Cristina pegá-los. Quando a menina diz que não há como fazê-lo, a professora então ensina sobre as consequências da fofoca e Cristina chora arrependida ao perceber como o seu hábito pode prejudicar pessoas. Ao ler (a revista, muito antiga, era de um colecionador), achei a moral muito importante. Porém, hoje, vejo que, se fosse de verdade, o mais provável seria que a menina talvez prometesse que nunca mais o faria mas depois voltasse a fazer fofocas. Pessoas fofoqueiras costumam ser maldosas e não se importar com as consequências que os seus fuxicos podem causar. Muitas vezes, elas sabem que o circo vai mesmo pegar fogo, no entanto não se incomodam com isso.

Outra que li foi contada por um senhor idoso que queria ensinar sobre como as crianças devem obedecer aos pais. Nela, os pais de uma menina queriam que ela levasse seu cachorrinho pequinês, Fifi, para vacinar. Só que a menina (que teria uns sete ou oito anos) dizia que não levaria e só ela mandava nela. Qual o fim da história? O cão ficava raivoso, tinha de ser sacrificado e a menina, muito triste, aprendia que tinha de obedecer aos pais porque apenas os pais sabiam o melhor para os filhos. Esta história, contada com um fim educativo, dá margem a várias interpretações. Como uma menina de apenas sete ou oito anos tem tanto poder assim para dizer que só quem manda nela é ela mesma? Com certeza, devia ser muito mimada, filha de pais permissivos ou negligentes. Quem tem que levar um cão para vacinar contra raiva são os pais, não uma criança. Ao perceber o absurdo da história, eu me perguntei: que pais são esses que deixam uma criança fazer algo tão perigoso e permitem que um animal fique raivoso? Pela narrativa, fica subentendido que a menina provavelmente ignorava o que era raiva e os perigos que um animal raivoso representava. Caberia a eles explicar que raiva é uma doença perigosa e sem cura e que um animal raivoso era um perigo para a família.

Uma mulher a quem contei a história pensou que a mesma era verdadeira e disse: que pais lerdos esses. Eu tenho filhos e crio bichos e quem leva os animais para vacinar sou eu, meus filhos não decidem nada não. Acho que o pai era que não queria vacinar o cachorrinho e deixou o pobre morrer para botar a culpa na menina. Os pais que são os responsáveis e que têm que levar os animais para vacinar.

Sejamos sinceros: se você tem um filho pequeno e o vê querendo pegar numa arma, vai se limitar a dizer: não mexa com isso, é perigoso? e deixar a criança pegar na arma, colocando em risco a própria vida e a de outras pessoas para só então dizer: está vendo, eu falei que pegar em arma é perigoso? Você tem que obedecer aos seus pais. Se uma coisa dessas ocorresse, de quem seria a culpa? Da criança ou dos responsáveis por ela?

Quando a história do cachorrinho me foi contada, aceitei que a culpa do cachorro ter pego raiva tinha sido da menina. Hoje, vejo que, se fosse verdade, os culpados seriam os pais. Qualquer pessoa os acusaria de irresponsáveis.

É incrível como só após um bom tempo vemos como certas histórias que nos foram contadas não passam de terríveis besteiras sem a menor verossimilhança.

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