"Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo". A Ilusão do Sufrágio Universal, Mikhail Bakunin

Chega a ser urticante e asqueroso ler e assistir, diariamente, o cinismo deslavado e as mentiras sem fim contadas pelo governo e ex-integrantes, bem como pela oposição. O teatrinho armado, onde oposicionistas tentam projetar-se no papel de bons moços e o governo no papel de mulher traída, vítima inocente de um "complô", um "golpe das elites", que hoje ele mesmo integra na prática, é repugnante e nojento. Enfatizo aqui: governo e oposição.

A cruzada pró-oposição da mídia visando ao desgaste da imagem de um governo democraticamente eleito a fim de preservar o status dos "donos do Brasil" (designação perfeita que nos foi dada pelo nosso caríssimo Lula Miranda) existe sim. Assim como, indubitavelmente, existe um mecanismo corrupto trabalhando a pleno vapor na máquina estatal há anos e que, por acaso e de bom grado, hoje está sob as rédeas daqueles que o condenavam. Essa instituição criminosa velada, paralela ao Poder, apenas muda de mãos a cada mudança de governo e é usada por este para sua própria manutenção ou pela oposição, como objeto de barganha e instrumento de açoite quando seus interesses não são satisfeitos. De quebra, um monte de gente aproveita para engordar seu patrimônio pessoal. O que é, absolutamente, lamentável.

Sendo assim, a oposição é cínica ao criticar o comportamento que sempre adotou a fim de retomar o controle do país e, mais uma vez, esquecer das críticas feitas anteriormente. E o governo que, por mais que tente desvencilhar-se, traz sua imagem atrelada ao partido, é cínico ao espernear e negar determinadas acusações num primeiro momento para, à medida que surgem os fatos, fazer uma mea-culpa, um "eu não sabia", seguida uma degola paulatina e um sacrifício de "vítimas" à opinião pública. Ou seja, vale a tática do negar até as últimas conseqüências. Se algo for descoberto põe-se a culpa em alguém, se não fica por isso mesmo e tudo bem. A questão agora é saber até onde irá essa degola.

Mas, não tenho a menor intenção aqui de tomar esse ou aquele partido, tampouco generalizar, cair no lugar-comum dos discursos panfletários. Aliás, essas linhas são absolutamente despretensiosas. São apenas as impressões de um cidadão comum. Só mais um brasileiro atordoado - embora não decepcionado, por estar acostumado às mentiras eleitorais de sempre - por ver que todos os caminhos, da esquerda ou da direita, conduzem a mesma vala que separa os miseráveis dos abastados; um trabalhador que assiste a cada dia a sociedade deteriorar-se enquanto o governo exibe números positivos, porém, inócuos no cotidiano do povo, que continua, como sempre, apenas tentando sobreviver por conta própria num Estado que não dá a mínima para os seus cidadãos. Num Estado onde quem desejar alimentação, saúde, educação e segurança - requisitos básicos à sobrevivência - precisa pagar caro para tê-los.

Mas, as eleições vêm aí. É claro que não vai adiantar muita coisa. Apenas iremos deixar o Estado nas mãos do governo ou devolvê-lo à oposição. De qualquer forma, a população continuará entregue às traças, daqui a dois anos, os noticiários serão os mesmo e o país estará com a mesma cara.