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SEÇÃO
Crônicas
06/08/2019 - 06h21
É mas não deveria ser
Maria Cândida Vieira
 

Quando a gente reclama muito de certas coisas, as pessoas dizem: "É assim mesmo", como se essas situações fossem normais e imutáveis e tivéssemos que aceitá-las. Eu penso nisso principalmente quando falo de como os pais costumam pressionar os filhos (principalmente as filhas) primogênitos. No geral - isso era pior no passado - os pais são muito mais duros com eles e mais brandos com os mais novos. E, se os primogênitos se queixam, costumam ouvir: "Mas é assim mesmo, seus pais esperam mais de você." Isso parece certo? Não soa pesado demais para um jovem (criança ou adolescente) sentir que os pais têm tantas expectativas em relação a ele, que é um ser humano e, como tal, tem suas próprias expectativas? Uma pessoa não deve existir para satisfazer às outras. Ela tem que ser quem é, porque todo mundo tem defeitos. Uma pessoa não é para ser programada, ela tem que ser deixada livre para se desenvolver e, um dia, traçar seu caminho. Não podemos mais ficar com essa desculpa de que "é assim mesmo".

Ficar cobrando de um filho mais velho que seja um exemplo para os irmãos também é injusto. Quem tem que dar bom exemplo são os pais, que são os educadores. Filho mais velho é filho como os demais, um ser em formação que precisa que ouçam suas necessidades, orientem e estimulem a crescer. Filho primogênito não tem que ser segundo pai ou mãe. Ele não tem maturidade emocional para isso, especialmente se a diferença de idade em relação aos irmãos for pequena.

No caso da filha mais velha, a situação é mais crítica. Exige-se que cuide dos irmãos, cobra-se mais dela que ajude nas tarefas domésticas e elas se sentem sobrecarregadas com isso. O tempo em que filha mais velha tinha que ser uma segunda mãe já passou. Cada pessoa é uma. Ficar com essa desculpa de "você é a mais velha, tem que ser responsável por seus irmãos", é injusto para com um ser que tem seus sonhos e necessidades. Filho ou filha mais velha tem que ajudar em casa sim, mas não ficar sobrecarregado com tarefas enquanto, muitas vezes, os outros só fazem o que querem principalmente por saber que, se errarem, os pais irão reclamar apenas com os mais velhos por não terem "tomado conta dos irmãos."

Aliás, os psicólogos, há muito tempo, já têm dito que isso é transferir responsabilidades. É tentar dar a uma pessoa uma tarefa, uma missão que ela talvez não esteja suficientemente madura para fazer. Imagine dizer a uma menina de sete anos: "Você é responsável por sua irmã, tem que ficar tomando conta dela." Uma criança de sete anos não entende isso. Ela quer ser criança. Não está preparada para assumir o papel de cuidar do bem-estar de outra. O problema é que, embora as coisas mudem, certas tendências estão tão entranhadas na nossa cultura que muitos pais, ainda que inconscientemente, reproduzem esses padrões injustos. Muitos inclusive, com o tempo, reconheceram isso. Houve até uma mãe que disse: "É, eu só exigia da minha mais velha que ajudasse em casa. Depois, quando fui exigir dos mais novos que começassem, eles não quiseram ajudar." Como podemos ver, os pais que viram que, por cobrar demais apenas de um e mimar os outros, produziram seres preguiçosos e mimados, estão sofrendo por seus erros. Muitos dos que reclamam que têm filhos que não arrumam a própria cama na verdade estão colhendo o que plantaram: não ensinaram responsabilidade aos filhos mais novos.

Outro erro é dizer do mais velho (ou mais velha) que é o auxiliar dos pais. Isso não existe. Casa não é empresa e pais não são patrões. Numa casa, é para todos ajudarem, até para ninguém ficar sobrecarregado. Está certo que uma criança maior, por ser mais velha, tem mais habilidade para certas tarefas, mas os pais não podem isentar os menores de ajudar. Eles têm que ser colocados para aprender a ser solidários desde cedo, para não se escorar nos outros. Havia uma moça que, quando criança, tinha a obrigação de limpar tudo que a irmã mais nova sujava e, quando reclamava das injustiças, ouvia que a outra era pequena e ela era a mais velha e, por isso, devia limpar.

Essa atitude de exigir demais dos primogênitos até favorece que os mais novos se tornem egoístas, mimados e mal-educados, pois os pais sempre desculpam os erros desses filhos com o argumento de que os mais novos são pequenos.

Portanto, só nos resta dizer que, ainda que muita gente ache que o filho mais velho ocupa uma posição privilegiada, para muitos ser o primeiro ou primeira é sinal de sobrecarga, cobranças e pressão. Vários são os que reclamam que queriam ser filhos únicos. Na verdade, nada é fácil, mas ser filho mais velho não deveria significar ser o que é mais cobrado.

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