Arthur Carlos | |
Algumas vezes escutei meu avô falar pra minha avó: Enche uma garrafa de café e manda a Maria levar lá no rancho à tardinha! Minha avó respondia: Rancho de pesca não é lugar de menina! Que pena vó, que você não conheceu a Jandira da Enseada (São Sebastião), a Ditinha de Búzios (Ilhabela), e tantas outras, que não ficaram limpando o peixe e salgando, partiram para o mar. A mulher subiu na canoa segundo o pasquim do Pombo Branco em 1948: “Nessa minha poca idade, tenho visto coisa boa, moça pobre vesti seda mulher remá na canoa” Elas começaram a remar para pegar as coisas que haviam nos naufrágios de navios, objetos que para os homens não tinham valor, mas que para elas interessavam: peças de tecidos, santinhas, pentes, espelhos, máquina de costura e uma infinidade de utensílios domésticos. Pegaram gosto pela canoa e hoje em dia a Jandira e a Ditinha já comandam a pesca e os pescadores onde moram. Não sei se algum trabalho acadêmico acompanhou isso, acho que não, mas a verdade é que quando uma mulher de pescador ficava viúva, subia na canoa que era do marido e trazia o sustento da família enfrentando todo tipo de preconceito. A história dessas mulheres é parecida, a Jandira ouviu o pescador de outro barco falar: Volta pro fogão! É a mesma história dos carros, quando os homens viram mulheres dirigindo criaram tanta piada, que agora as seguradoras já desmentiram. O mar é para todos, é democrático: ricos, pobres, turistas, estrangeiros. E a mulher já conquistou o seu espaço! Parabéns!
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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