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Opinião
24/08/2019 - 08h50
Tecnologia não é apanágio
Roberto Naime
 

As inovações tecnológicas devem assegurar a equidade e justiça social e econômica dentro e entre as sociedades contemporâneas. Este é o cenário da sustentabilidade. Mas não se deve admitir que apanágios do tipo geoengenharias, que praticam interferências desconectadas em fragmentos de realidade, sejam utilizadas como compensadores de consciências comprometidas.

A experiência histórica tem mostrado que, quando novas tecnologias são introduzidas em sociedades mais pobres e atrasadas, sem que se adotem medidas políticas específicas para assegurar práticas distributivas, ocorrem exacerbações das iniquidades em termos de renda e de poder.

Por isso se sabe que leis e normas não vão resolver os problemas, embora sejam relevantes. A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio. Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

As classes mais ricas obtêm uma parcela maior dos benéficos gerados pelas inovações, enquanto as camadas mais pobres tornam-se ainda mais pobres e espoliadas. A chamada “revolução verde” criou diversas realidades impactantes em termos da concentração das terras, da expropriação de pequenos lavradores e da expulsão dos trabalhadores “sem terra”, nos países classificados como “em desenvolvimento”.

Devido aos interesses econômicos e práticas comerciais firmemente estabelecidos que se constituem em parte importante das relações de poder em nossa sociedade, os custos reais das atividades econômicas e seus impactos sociais e ambientais não são contabilizados na formação dos preços dos produtos. Constituem as chamadas “externalidades” da economia clássica.

A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade. Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda. O consumismo precisa ser substituído pela ideia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.

A não inclusão dos danos e a depredação ambiental nos custos e preços dos produtos significam sua transferência para a sociedade, sendo que os lucros são creditados à eficiência dos administradores e os dividendos são pagos aos acionistas das empresas.

O desenvolvimento e a aplicação de biotecnologias como transgênicos ou organismos geneticamente modificados, utilizando grandes quantidades de agrotóxicos, resulta em degradação de recursos naturais.

Não faz sentido exercer qualquer condenação prévia e apriorística da biotecnologia ou de qualquer substância química. Qualquer inovação tecnológica teve como estimulação, os benefícios que podem ser gerados, embora possam ter trajetória tão diferenciada quanto são as intenções e predisposições de toda humanidade. Assim, todos os procedimentos merecem isenção e avaliações em cada caso, e não condenações gerais de qualquer natureza, que respondam a anseios dogmáticos ou políticos.

O agravamento da situação atual é caracterizada pela acelerada deterioração do meio ambiente em escala global. O efeito estufa, a destruição da camada de ozônio, a chuva ácida, a destruição das florestas, a erosão dos solos e a expansão de desertos, a perda de inúmeras espécies de plantas e animais, denominada de erosão genética, a contaminação tóxica do ar e da água, provocarão pressões sociais e políticas ainda maiores.

Até aqui tratamos apenas dos efeitos negativos das tecnologias agrícolas e industriais no meio ambiente físico e biológico. Estes impactos podem ser maiores ainda no meio antrópico ou socioeconômico, com impactos no meio ambiente social e cultural das estratégias de crescimento econômico dominantes.

O avanço e a expansão da agroindústria moderna causaram a destruição de tribos e comunidades nativas, com a consequente perda da diversidade cultural, patrimônio de toda a humanidade.

Em vez de reduzir desigualdades e desequilíbrios sociais, as políticas econômicas vigentes aumentam as diferenças e aprofundam a segregação e polarização social. Sem negar a importância de um aumento da oferta de bens materiais e de alimentos para assegurar maior estabilidade nas relações sociais, principalmente nas regiões mais pobres do mundo, serão as opções políticas tomadas pelos governos e não a aplicação de novas inovações tecnologias que definirão o escopo de “nosso futuro comum”.

Inovações tecnológicas não são apanágios que consigam obliterar realidades sociais e econômicas.

O discurso oficial promete soluções por meio do progresso técnico. Mas ciência e tecnologia não são politicamente neutras. Em cada contexto histórico e social, as formas concretas da tecnologia representam uma combinação de diferentes níveis de poder econômico e político.

Um outro mundo é possível, inserido na livre iniciativa. Nada contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para equilíbrio do arranjo social, é inadiável. Resta saber se ocorrerá de forma prévia e planejada ou esperará hecatombe e ocorrer de forma improvisada.


Nota do Editor: Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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