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Opinião
29/07/2005 - 06h03
Desarmamento
Geraldo Lopes
 
Pau que dá em Chico dá em Francisco

Mobiliza-se a nação e gasta-se uma fábula de dinheiro para perguntar ao povo se deseja ou não a fabricação de arma de fogo e de munição. Qual o objetivo prático desse plebiscito? A população sabe que o crime organizado vai continuar abastecendo seus arsenais com armamento sofisticado. A população sabe também que, uma vez desarmada, transforma-se em alvo mais fácil de bandidos, sobretudo das gangues especializadas em invadir e saquear casas e apartamentos. O povo não é burro e sabe que, desarmado, o cidadão será forçado a investir cada vez mais na sempre próspera indústria da (in) segurança.

Os defensores do desarmamento são os mesmos que aparecem quando acontece uma tragédia empunhando bandeiras e organizando passeatas pela paz, movimentos que, invariavelmente, atingem as zonas sul e oeste do Rio de Janeiro e os jardins Paulistas, áreas nobres onde se concentram as maiores riquezas do país. A discussão sobre desarmamento é delicada. Mesmo os que são contra têm medo de expressar esse tipo de opinião. Tem muita gente defendendo a bandeira do desarmamento só para saborear os quinze minutos de fama diante dos holofotes televisivos. Outros defendem o desarmamento por absoluta falta de coragem em assumir posição contrária. Os políticos então, esses nem se fala. Os que são contra o "não às armas" morrem de medo de perder votos e pousam de bonzinhos abrindo fogo contra o comércio de armas e munição.

Vamos ver a quem interessa uma população desarmada: em primeiro lugar, é claro, aos poderosos caciques da gigantesca indústria da (in) segurança. Depois vem os bandidos que, em São Paulo promovem arrastões em mansões, prédios de apartamentos e até em hotéis, seguidos dos colegas cariocas que invadem casas e apartamentos em prédios das zonas consideradas nobres como Ipanema, Leblon, Copacabana, Lagoa Rodrigo de Freitas, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. No resto do país, o desarmamento interessa aos delinqüentes que fizeram a opção pela modalidade de crime que consiste em roubar, saquear, seqüestrar e investir contra residências, sítios e fazendas.

Qualquer bandido que tenha optado por esse viés do crime é tão humano quanto sua possível vítima. Na condição de ser humano, ele sente os mesmos medos, corre os mesmos riscos e está sujeito aos mesmos ferimentos. Qualquer bandido que decide invadir uma mansão ou um apartamento seja nos grandes centros ou em cidades do interior, é dotado dos mesmos sentidos de sua vítima em potencial. O delinqüente tem tanto medo quanto sua possível vítima, e no caso de ambos estarem armados, tanto pode sobrar para um quanto para o outro. Ou seja, o pau que dá em Chico dá em Francisco.

Se passar a lei do desarmamento, tudo vai ser diferente. O celerado que opta por invadir a propriedade alheia e que antes se preocupava com a possibilidade de se defrontar com a resistência armada, simplesmente deixa de lado esse tipo de preocupação. Com a população desarmada o bandido fica à vontade para consumar seus atos criminosos sem o menor risco de ser surpreendido pela reação da vítima. A diferença está entre invadir uma casa com a possibilidade de confronto ou saquear uma mansão absolutamente convicto de que todos estão desarmados, impotentes e indefesos. E aí ele, somente ele, o senhor bandido que empunha um velho e enferrujado revólver 38 ou uma moderna e poderosa pistola está em condições de dar as ordens. Nesses casos eles geralmente agridem, estupram, humilham e pilham suas vítimas quando não resolvem matar.

O resumo da ópera é o seguinte: com a população armada, desde que a produção e venda de armas e munição sejam devidamente controladas, o crime organizado vai continuar como sempre foi, traficando drogas e armas e ocupando espaços deixados pelo poder público, mas o crime no varejo tende a diminuir porque, como já dissemos, o bandido tem tanto medo quanto qualquer outro ser humano. Se o plebiscito for pelo desarmamento, o crime organizado manterá as mesmas características e o crime no varejo vai se alastrar crescendo um pouquinho por dia até que todos os grandes centros, todos os municípios, todos os povoados estejam absolutamente dominados por bandidos armados subjugando uma população indefesa, humilhada e abandonada pelo poder público. Quanto à indústria da (in) segurança, ela vai continuar crescendo no mesmo ritmo em que vai crescer o crime no varejo. Quem viver verá.


Nota do Editor: Geraldo Lopes é jornalista.

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