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Crônicas
06/09/2019 - 07h17
Num tempo de galinhas, terreiros e quintais
Rangel Alves da Costa
 

Galinha gorda, nascida e criada na engorda dos quintais, dos monturos, dos terreiros e na solta do meio do mundo.

E galinha muita, pois muitos quintais e nestes sempre os poleiros, recantos e estrados apinhados da cacarejante.

Mas também meio mundo de pintos, galos e outros ciscantes. Hoje, a verdadeira galinha de capoeira é raridade, está praticamente sumida.

Nos afastados da cidade, nas fazendolas e moradias, ainda é possível encontrar a cacarejante engordando logo após a porta da cozinha, quintal arriba e pelos arredores.

Milho, xerém, restos de comida, basta jogar adiante e a correria está feita. A galinhada come de tudo, bastando jogar uma mão de qualquer coisa e a festa está feita no quintal, terreiro ou malhada.

Puxar o pescoço de uma dessas é ter a certeza de panela cheirosa e comida boa, gorda, oleosa pela banha da própria ave, de osso duro e carne saborosa sem igual.

Mas nem todo sertanejo gosta de colocar uma galinha no fogo. Coisa estranha acontece, mas mesmo com o quintal cheio das penosas, não raro a panela estar completamente vazia.

Muitas vezes cria só por criar, para ter ovos ou para vender, porém não se encoraja de puxar o pescoço de uma de jeito nenhum. E isso é uma verdade.

Conheço gente interiorana, com galinha ciscando por todo lugar, mas não tem coragem de lançar mão de uma quando o tiquinho de carne da feira acaba.

Fica sem a mistura do feijão ou da feira, mas a galinha fica. Procura qualquer naco de outra coisa, mas a penosa fica ciscando, cacarejando, em riba do poleiro, sujando o quintal inteiro.

Na região sertaneja, tantos nos afastados como na cidade, havia tanta galinha de capoeira que certa feita aconteceu um episódio interessante. E bote interessante nisso.

Nos anos 70, quando da chegada da energia elétrica na cidade de Poço Redondo, a noite de primeira iluminação foi mais surpreendente do que se poderia imaginar.

E não só pelo número de pessoas nas ruas, mas principalmente pelas galinhas que tomavam todos os recantos da cidade.

Acostumadas a deitar logo ao escurecer, ainda antes da boca da noite, as galinhas confundiram a luz da energia com a luz do dia e foi um problema sério pra ser resolvido.

Imaginando ainda ser dia, de repente deixaram os quintais e começaram a passear pela cidade. Nem subiram aos poleiros e já estavam passeando pelos becos, ruas e avenidas.

Pra cada dez pessoas havia vinte galinhas dividindo o mesmo espaço. E demorou tempo até se acostumarem.

Contudo, não só as galinhas ficaram desnorteadas pela chegada da luz elétrica. Muita gente também. E muita coisa estranha começou a acontecer, e fatos ainda hoje recordados por muitos.

Menino não queria dormir de jeito nenhum. Uma velha senhora chorava de se acabar porque não sabia mais a hora de rezar seus credos e orações. Um maluquinho, reclamando que a noite não chegava mais, então começou a jogar pedras nos postes e nas lâmpadas.

Mas o pior aconteceu com Leotério: oito da noite e ele deitado na calçada pra tomar sol. E quando o galo cantava na madrugada, então ele dizia: O mundo tá doido. Nunca vi dizer que galo cantasse com o sol já saído.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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