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Opinião
18/09/2019 - 06h17
Lei do mais forte
Montserrat Martins
 

Já passei tantas décadas ouvindo sobre roubos, homicídios e latrocínios, no meu trabalho, que me obrigo a compartilhar o que aprendi com os autores de tais crimes. Sendo Psiquiatra Judiciário, entrevisto os que já estão cumprindo sentença e que muitas vezes revelam abertamente suas motivações.

É impressionante o caráter mais psicológico do que material das motivações. Entre jovens infratores, por exemplo, a revelação mais comum é que roubaram um carro “para dar uma banda em frente ao colégio para as gurias verem”, ou seja, como ostentação de poder, como autoafirmação, ao contrário do imaginário popular onde as pessoas roubariam por estar na miséria, passando fome. Nem mesmo a pretensão de permanecer na posse do objeto é fundamental, o mais importante é o momento psicológico do cara que quer se desejado pela garota.

O caráter impulsivo também prevalece sobre o racional, pois quando raciocinam dizem que o crime só leva aos “3 Cs”: cadeia, cadeira de rodas ou caixão. Mas, como no título do filme americano “Fique rico ou morra tentando”, o desejo de riqueza rápida e aventureira é mais forte que a razão.

A descrença na sociedade “oficial” também é marcante, mas as “leis” não escritas da “sociedade paralela” das gangues não são mais justas que as distorções sociais, ao contrário, são a pura “lei do mais forte”, amenizada com alguns regras para agradar (e tornar cúmplices) os moradores locais tais como não permitir estupros, ou não permitir “chinelagem” (roubar da vizinhança, nas áreas de periferia), ou até ajudar com empréstimos quem precisa de remédios para os filhos. Mas apesar desses agrados o poder é mantido na base do terror, matando desafetos ou devedores.

A “lei do mais forte” praticada pelas gangues contrasta com o imaginário dos que veem os criminosos como vítimas da sociedade, quando as verdadeiras vítimas são os trabalhadores que eles roubam, os pais e mães de família que eles matam.

A mais ingênua crença dos militantes de esquerda é imaginar como vítimas os autores de crimes que, eles próprios, se consideram bandidos. Eles não são revolucionários humanistas, eles seriam uma espécie de “capitalistas selvagens” que exploram suas comunidades. Sem repressão policial o crime não cessa, até pelo “princípio do prazer” descrito por Freud, que só cessa diante dos limites da realidade.

Por outro lado, a mais ingênua crença dos militantes de direita é acreditar que a repressão policial resolve tudo, pois enquanto a “sociedade oficial” não for planejada para ser mais inclusiva, não estimulará a migração para ela de milhões de jovens que hoje são seduzidos pelas gangues em busca de melhores oportunidades, mesmo sabendo que se futuro é “ficar rico ou morrer tentando”.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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