Na década de quarenta, a política de São Sebastião/SP era para os apaixonados, vereador não tinha salário, não tinha gabinete, não tinha assessores, era pura dor de cabeça. Só entrava pra política quem não se importava em ser tachado como louco. Meu pai fez campanha junto com seu melhor amigo, Seu Alvinho, os dois eram Álvaro, fizeram um cartaz de papelão escrito ÁLVARO em letras cortadas e saíram pela cidade pintando os muros com o papelão e uma bomba de flit cheia de tinta preta. Numa eleição seu Alvinho perdeu muitos votos, pois em vez de Álvaro escreviam Alvinho na cédula e era anulado, não podia ser o apelido. O apelido do meu pai era Filhinho Moura. Na época o Partido Comunista, era a opção para quem não se conformava com ditadura, e chegaram a eleger o presidente da Câmara e dois vereadores, um deles meu pai: Álvaro Moura. Ele era profissional liberal, trabalhava junto com o meu avô Sebastião Justo de Moura, no ramo da construção civil. A briga em São Sebastião era contra o que eles chamavam de cagueta, os que denunciavam reuniões e qualquer outra atitude que era considerada subversiva. Os amigos do meu pai me contavam que ele sempre levava um guarda-chuva para as reuniões da Câmara e muitas vezes brigava de guarda-chuva com alguns políticos de outros partidos. Dos seus desafetos um foi seu Zino Militão e o outro, seu Nofrinho (Onofre Santos Filho), sempre que discordavam de alguma coisa o pau comia. As sessões de Câmara viravam versos de pasquins, o Xandrico (Alexandre Pinder) transformava as discussões em versos, que eram passados por baixo das portas das casas, em folhas que se perderam com o tempo. Que pena! Em 1969 meu pai suicidou-se, possivelmente por depressão. Anos depois, meu irmão acabou casando com a filha do Seu Zino, a divergência política não atrapalhou a história de amor! Ainda peguei vereadores comprometidos, que só queriam o progresso de São Sebastião, esses foram referência e suas esposas desenvolviam papel social importante. A política acabou perdendo grandes representantes populares, uma vez que hoje em dia, o dinheiro compra votos, e as campanhas milionárias elegem pessoas mais comprometidas com quem os elegeu do que com os interesses da cidade.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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