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Opinião
02/10/2019 - 06h44
O paradoxo da violência
Montserrat Martins
 

Estão na moda as produções intelectuais sobre “fascismo” para explicar o apoio a Bolsonaro, esquecendo que os mesmos eleitores deram dois terços dos votos a Lula uma década atrás, os mesmos que também quase elegeram Marina Silva em 2010 e 2014. O que de fato mudou, na forma de pensar da população, em tão pouco tempo?

Sérgio Buarque de Hollanda foi quem melhor explicou esse fenômeno, que seria cíclico pois “Raízes do Brasil”, escrito há oito décadas, é o mais atual livro sobre o país. Diagnosticou ele que somos avessos a autoridades e a disciplina e que nossa tendência anárquica só cessa diante de uma sensação caótica, quando “chamamos um tirano” para tomar conta do país. A violência urbana se tornou cada vez mais assustadora e o sentimento de revolta foi crescendo até que, em 2018, se configurou mais uma vez o preciso diagnóstico do Hollanda.

Os 16 mil homicídios no país esse ano, até agosto, são cerca de 25% menos que os quase 22 mil no ano passado, na mesma época, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O país chora a morte de criança no Rio, a quinta esse ano, vítima de bala perdida em confronto entre policiais e criminosos, pois morte de criança sempre é chocante, gerando protestos sobre a ação policial. O vice-presidente, no exercício da Presidência, questionou se os moradores teriam liberdade para protestar contra a ação de traficantes, pois respeitam a “lei do silêncio” das gangues.

O paradoxo da violência é que a ação mais violenta da polícia possa ser necessária para inibir a violência do crime organizado. A ação policial já foi contestada até com uma comparação, feita em 2015, entre o número de vítimas específica de roubo (latrocínios), que foi de 2,3 mil naquele ano, e o número de mortes causadas por policiais em confronto com criminosos, que foi de 3,3 mil naquela estatística.

Mas enquanto choramos uma morte de uma criança, não lembramos dos 400 policiais mortos por ano, ou mais ainda das dezenas de milhares de vítimas do crime organizado, que já produziram em um ano mais de 60 mil vítimas de violência, principalmente homicídios, mais que latrocínios. A maior ação policial está diminuindo o número de vítimas na maioria dos estados, no Rio Grande do Sul teriam diminuído em cerca de 20% as mortes violentas.

Há uma explicação para diminuir o número de vítimas de violência, com o aumento da violência policial. É que o “mundo do crime” não é homogêneo. Apenas uma parcela dele são o que se poderia chamar de “criminosos irrecuperáveis”, cuja personalidade é tão identificada com o crime organizado que jamais se imaginariam em qualquer outra atividade.

A maior parte dos envolvidos em crimes é “volátil”, pessoas que acreditam que podem “se dar bem” por meios mais rápidos que os jornadas de trabalho torturantes, humilhantes e sacrificadas de tantos milhões de trabalhadores mal pagos. É essa maior parte, a dos criminosos “eventuais”, que é inibida pela ação policial mais violenta. Essa parcela significativa é suscetível de se assustar com a repressão policial e ir buscar alternativas de sobrevivência.

Esse paradoxo é intuído por milhões de brasileiros que desejam das autoridades essa postura, de policiamento ostensivo e enfrentamento ao crime organizado. As mortes de pessoas em assaltos, os tiroteios das gangues nas periferias, a insegurança generalizada, levou a população a desejar uma repressão mais forte e é isso que está acontecendo. Pode atingir vítimas inocentes, mas outras milhares de vidas são salvas.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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