Fui bancário durante 30 anos. Não era a minha vocação, mas consegui desempenhar minhas tarefas nesse setor a contento, sempre trabalhando no crédito rural. Esta mal traçada tem a ver, claro, com bancos. Vejam bem, faz muito tempo que me aposentei, mas lembro que não se podia assinar cheques, contratos, cédulas rurais e escambau de documentos bancários com tinta que não fosse azul ou preta. Outra cor não era aceita. Certo? Quase certo porque toda regra tem sempre uma exceção. Vou contar uma que teve a tinta verde como protagonista. Junto com um colega fomos a Recife (os bestas sempre dizem ao Recife) elaborar uma cédula rural referente a um empréstimo do BNB às fábricas Peixe, o maior empréstimo já realizado no crédito rural no nordeste em todos os tempos. Era para plantação de tomate. Como a garantia era hipotecária levamos um caixote de escrituras, eram quase cem escrituras. Tinha que ser feito em Recife porque necessitava do exame do núcleo jurídico e da auditoria. Bom, elaboramos a danada da cédula, levamos quase dois dias, muito exame, análise... Tudo pronto levaram para assinar, inclusive a cerimônia tinha imprensa e retrato. Mas houve um, digamos, óbice (palavrinha chata): um dos diretores da Peixe só assinava documento com caneta de tinta verde. Foi um rebu danado. Tiveram que se comunicar com altas esferas da justiça, um tal Mansur tinha uma espécie de TOC só assinava documento com tinta verde. Veio o resultado: podia sim assinar com tinta verde. Mas foi exceção, continuou a valer no dia a dia do banco só a tinta azul ou preta. Inté.
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