"Que a economia de mercado recompense aquele que for capaz de bem servir os consumidores não lhes causa nenhum dano, só os beneficia." (Mises)
Os americanos lideram uma sociedade de consumo. O advento do capitalismo possibilitou o surgimento de uma enorme gama de produtos e serviços demandados pelo povo. O conforto material hoje é infinitamente maior que no passado, graças basicamente à liberdade econômica, império da lei e cultura individualista. Milhões de patentes foram criadas, e a inovação foi fantástica. Os pseudo-intelectuais condenam no discurso, mas agradecem na prática. Os consumistas americanos sustentam o mundo! A criticada globalização é que permite o foco de cada país em sua vantagem comparativa, como já defendia David Ricardo no começo do século XIX. Ainda existem muitas barreiras ao livre comércio internacional, inclusive por parte dos Estados Unidos. Mas é a gradual abertura econômica que tanto tem favorecido o progresso mundial. Os que ficam à margem dessas vantagens, culpam por ignorância ou perfídia a globalização, em vez de entenderem que é a falta dela que causa sua miséria, amplificada pelo tamanho do Estado. Nações fechadas, com alto protecionismo, ficam distantes dos avanços capitalistas, usando o próprio capitalismo como bode expiatório para os problemas causados por sua ausência. Cuba é um caso sintomático. Vive na total miséria causada pelo socialismo, acusa o "império" americano de exploração, e implora pelo fim do embargo, desejando ser "explorada" pelas empresas americanas. De fato, muitos acusam os Estados Unidos de exploradores, usando a hipocrisia para esconder o fato de que tal "exploração" é que sustenta os empregos mundo afora. Antigamente, uma potência imperialista, como a Espanha ou Inglaterra, exploravam suas colônias, tirando à força seus recursos. Atualmente, os consumidores precisam interagir pela via econômica, ou seja, pelas trocas voluntárias. Está certo que ainda temos muita interferência política, para a infelicidade dos liberais e dos consumidores. Mas é fato que para o povo consumir um produto de outra nação, precisa oferecer algo em troca, que o vendedor aceite voluntariamente. É o que vemos quando os americanos compram produtos chineses, dando em troca seus dólares, aceitos de bom grado pelos vendedores de lá. Como acusar os americanos de exploradores quando eles compram do mundo seiscentos bilhões de dólares a mais do que vendem para mundo por ano? Analisando os números, observamos uma trajetória incrível nos últimos anos, aumentando ainda mais a dependência mútua entre os americanos e o resto do mundo. Os primeiros, através do consumo de bens importados, garantem os empregos em cada canto do globo; o restante permite que a "festa" americana continue, usando o saldo das exportações para investir nos Estados Unidos pela conta de capital. A simbiose se completa. O dinheiro acaba voltando para a América, pois o mundo ainda a considera mais confiável que o resto. O império da lei, a flexibilidade da economia, o capital intelectual, o forte crescimento, a produtividade maior, tudo isso atrai como um imã a poupança do mundo todo. O mundo tem exportado poupança para os Estados Unidos. As recentes e graves crises dos emergentes ajudam a explicar também essa postura mais cautelosa. Esses recursos, que financiam o déficit comercial americano voluntariamente, fazem com que a taxa de juros fique baixa, e estimulam o crédito e o efeito riqueza dos americanos, que por sua vez sustenta o consumo. As pressões deflacionárias do capitalismo, como a absorção da mão-de-obra mais barata chinesa e o progresso tecnológico, vem impedindo a alta dos preços. A quem interessa interromper esse ciclo virtuoso? Em 1996, os Estados Unidos tinham cerca de $120 bilhões de déficit comercial, valor próximo dos $90 bilhões dos países em desenvolvimento. A China tinha um superávit tímido, pouco maior que $7 bilhões. Em 2004, o déficit americano havia saltado para mais de $660 bilhões, sendo que todos os outros países tiveram superávit. Ou seja, os americanos compraram mais que venderam do mundo todo. Os americanos são, de longe, os principais clientes das empresas exportadoras de cada continente. O Japão apresentou superávit superior a $170 bilhões, a China já tinha subido para $55 bilhões de saldo, e o Oriente Médio saiu de praticamente zero em 1996 para $116 bilhões em 2004, bastante impulsionado pelo petróleo. Se o consumo dos americanos desacelerar, ceteris paribus, milhões de empregos serão destruídos pelo planeta todo. Quem vai reclamar do consumismo americano com esses dados nas mãos? Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor dos livros "Prisioneiros da Liberdade" e "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", ambos pela editora Soler.
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