Apareceu quem estava faltando neste festival de malas, cuecas, mentiras e desrespeito à população: ONGs, irrigadas pelo esquema do valerioduto. Se alguém se surpreendeu, mais do que desatenção foi por conta da forma, quase sempre acrítica, pela qual nossos veículos de comunicação tratam as entidades do chamado Terceiro Setor. Como exceção à regra, o Correio Braziliense publicou, em junho passado, uma matéria intitulada "O paradoxo das ONGs", que tinha como base a pesquisa "Associativismo civil e Estado: um estudo sobre organizações não-governamentais (ONGs) e sua dependência de recursos públicos", feita pelo doutorando em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina, Rodrigo Rossi Horochovski, nos anos 2003 e 2004. No estudo, Rodrigo Horochovski constatou que, de um total de 189 instituições pesquisadas, 54% delas sobrevivem graças a recursos governamentais. Todas as entidades analisadas fazem parte da Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais (Abong). Até aí, aparentemente nenhum problema. No entanto, o que ocorre é que o acesso aos recursos públicos se dá sem concorrência, quase sempre por meio de dispensa de licitação, tendo como motivo um pretenso notório saber. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos uma ONG que pode ser considerada a Da Vinci do Terceiro Setor, pela capacidade - semelhante ao gênio italiano - de atuar em qualquer campo do conhecimento humano. Presença constante no noticiário, nunca de forma crítica, o Viva Rio teve uma receita, em 2004, de R$ 19,632 milhões, deste volume de recursos, 47,6% foram provenientes de governos. São muitas as perguntas que não querem calar. Quem controla o uso destes recursos? Quem garante que, sem concorrência, realmente estas ONGs sejam as instituições mais preparadas e capacitadas para execução dos serviços contratados? Que balanço se tem das ações executadas por elas? Quanto ganham os diretores destas entidades sem fins lucrativos? Enquanto aguardamos uma cobertura mais crítica com relação às ONGs e diante desta triste conjuntura e da atual crise política, para que possamos rir, no lugar de chorar, nada melhor do que relembrarmos nosso colega jornalista Apparicio Torelly, o Barão de Itararé, em duas de suas frases geniais: "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo" e "Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados". Nota do Editor: Marcus Miranda é jornalista.
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