Nada dói tanto quanto o arrependimento, sobretudo o tardio. Dói e entristece. Há uma música antiga, acho que cantada por Silvio Caldas (?) que começa com o seguinte verso: "O arrependimento quando chega faz chorar". É vero. A gente costuma chorar por dentro. Sei que há os metidos a durões, os orgulhosos que sempre afirmam que não se arrependem de nada. É bocão, fita, mentira. Todo ser humano com sã consciência se arrepende de algo que fez ou que deixou de fazer. O arrependimento não é do que fizemos de errado, mas do que deixamos de fazer, do que devíamos fazer e nos omitimos. Há uma frase de Boccaccio arretada: "É melhor arrepender-se por ter feito alguma coisa do que não ter feito nada. Mas a verdade, repito, é que o arrependimento dói. Não, ele não cessa nem com a redenção. Fica dentro da gente vivo e bulindo e nos envergonhando. Que fique claro que o arrependimento faz parte do show da vida. De certa forma é uma virtude positiva. Errar e reconhecer o erro. Reconhecer e se arrepender. Só que isso não apaga, ele continua a incomodar. A vida toda. Quando falo de arrependimento, não estou relacionando-o com os maus. A maldade deles é outro departamento. O mau não erra, ele comete maldade calculadamente e propositadamente. O mau é completamente despido de humanidade. O mau não é gente, é coisa. Quando começo a sessão arrependimento, errei paca, costumo recordar o que disse Voltaire: "Deus fez do arrependimento a virtude dos mortais". Releva o sentimento de culpa. Ah, o arrependimento. Inté.
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