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Crônicas
04/08/2005 - 08h05
Perguntas impertinentes
Christian Rocha
 
"Nenhuma pergunta é tão difícil de se responder quanto aquela cuja resposta é óbvia." - George Bernard Shaw

A quem interessa o turismo? - A economia inexpressiva de Ilhabela até meados dos anos 60 garantiu a preservação do meio ambiente. O meio ambiente preservado atraiu turistas e empresários, o que impulsionou a economia local, atraiu migrantes e fez a cidade crescer. O crescimento de Ilhabela causou danos ao meio ambiente, o que ameaça a frágil prosperidade observada a partir dos anos 80.

Você é caiçara ou chegou há pouco de fora? - Muitas pessoas crêem que a culpa dos problemas de Ilhabela é dos migrantes, que interferem num processo que poderia ser resolvido apenas com empresários (investidores externos) e caiçaras (os habitantes originais) e a cidade continuaria linda como aparece nas fotos de 50 anos atrás. Mas essas pessoas esquecem de duas coisas importantes: 1) sem o trabalho dos migrantes a cidade não teria metade das facilidades existentes hoje; 2) para muitos migrantes, o que é ruim aqui ainda é melhor do que o que é bom em suas cidades de origem.

Quanto vale o Parque Estadual de Ilhabela? - O desenvolvimento sustentável é uma mentira. Desenvolver um lugar atrai moradores e investidores, o que logo torna a cidade insustentável. Logo atrás dos empresários vem uma legião de migrantes em busca de emprego. E quanto mais se desenvolve o turismo e a economia, maior o número de investimentos, de empresários e de migrantes. De um lado isso significa prosperidade; de outro, significa exploração do meio ambiente.

Você economizaria água se soubesse que Ilhabela tem nascentes suficientes para abastecer todo o litoral paulista? - A propaganda excessiva em torno da preservação (mérito do Governo Estadual aliás, que criou o Parque Estadual de Ilhabela) pode agravar o processo de exploração e de destruição do meio ambiente, causando efeito oposto ao desejado. Qual lógica há nisso? Se você fosse rico e tivesse uma bela casa, qual seria a atitude mais sensata: manter uma vida discreta e trabalhar para mantê-la ou, ao contrário, sair por aí declarando sua riqueza para atrair visitantes?

Tudo bem se eu matar a galinha dos ovos de ouro? - O ecoturismo, a menina dos olhos dos idealistas de Ilhabela (políticos, empresários e cidadãos comuns mais esclarecidos), pode ser um tiro no próprio pé. O ecoturismo sustenta apenas os empresários do setor. Não se trata, como muitos pensam, de uma panacéia econômica. Eis novamente a falácia do desenvolvimento sustentável, algo que só existe nas páginas dos planos diretores. Por falar nisto... Ah, deixa pra lá.

Quem preserva mais: a iniciativa privada ou o poder público? - A atitude dos empresários não é totalmente injusta. Não há nada de errado em tirar proveito de um lugar, desde que parte desse proveito seja reinvestido no lugar, como faz um lenhador que gasta parte de seu tempo plantando mudas de árvores. O leitor poderá dizer que essa tarefa já é realizada pelo poder público, que recolhe impostos e os utiliza em melhorias para a cidade, ao que eu perguntaria: é mesmo?

Espernear ou pagar o preço? - Tudo que se deseja implica um preço, uma contrapartida necessária para a obtenção do objeto do desejo. Por enquanto, a maioria de nós quer as lindas praias, cachoeiras e florestas ilhabelenses e, ao mesmo tempo, as facilidades de um shopping center com ar condicionado, o tipo de lugar que nos permite o ócio entorpecente, a nulidade mental e o materialismo sem culpa. Crianças fazem algo parecido: querem balas e doces e ao mesmo tempo se recusam a fazer as coisas que as tornariam merecedoras dessas guloseimas. Elas simplesmente esperneiam.

• Depois destas perguntas - colecionadas ao longo de muitos anos vivendo em Ilhabela -, não sei se me dedico a ter uma vida boa ou a ter uma boa cidade. Demoro um pouco para perceber que estas duas coisas são uma única e mesma coisa: se as pessoas estiverem bem, a cidade estará bem e nenhuma pergunta será necessária.


Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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