Não devemos gritar, como fizeram os argentinos, "que se vayan todos". Mas é necessário, sim, que se vayan alguns deles para que possamos dar início a uma boa "faxina" no nosso sistema político, para que possamos dar início a uma reforma política para valer. Reforma política que deve começar com uma exemplar "assepsia" ética no Congresso, por intermédio da cassação dos mandatos de um bom número de parlamentares, seguramente de mais de uma dezena deles, envolvidos com a pilhagem da República (com a pilhagem da coisa pública - entenda-me bem). Depois de uma meticulosa limpeza, faz-se necessário discutir, debater e votar uma boa e abrangente reforma que inclua em sua pauta questões como fidelidade partidária, financiamento público de campanha, redução do número de legendas (acabando com as chamadas legendas de aluguel) etc. Sem essa reforma, teremos desperdiçado mais essa oportunidade histórica de se fazer mudanças de fundo em nosso apodrecido e viciado sistema político. É hora de virar a página. É hora de semear o novo. Mas, e disso não se poderá escapar, é de fato essencial, para que essa "faxina" seja realmente para valer, que alguns sejam punidos exemplarmente, e algumas cabeças devem mesmo rolar - já que o crime é capital. Senão, que vá renunciando um a um. Pois a sociedade assim o exige e, além do mais, precisa-se levar a um bom termo toda essa crise o mais rápido possível, pois o país precisa seguir funcionando dentro de uma normalidade e tranqüilidade mínimas. Sim, terão que ir a sacrifício algumas cabeças de parlamentares, mas também de alguns dirigentes partidários, funcionários públicos, empresários e lobistas, que, quando não pecaram por corrupção, pecaram por incompetência, improbidade administrativa e/ou falta de ética. Devem pagar, portanto, com a pena de perda do mandato, da função partidária ou do cargo, e até mesmo, em alguns casos, com a pena de privação de liberdade (cadeia, num português mais claro). Então, retomo e reformulo o grito de guerra dos argentinos num "portunhol" de ocasião: que se vayan algunos de ellos. Que se vayan José Dirceu, João Paulo Cunha, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcelo Sereno, Sílvio Pereira e alguns outros que receberam ou operaram o dinheiro sujo do esquema Valério-Delúbio. Sim, pois é preciso cortar na própria carne, como, aliás, já bem disse o presidente da República, figura símbolo do partido dos trabalhadores. É preciso mandar embora os traidores da causa. É preciso que o PT dê o exemplo cabal. De modo peremptório, inequívoco. Mas, veja bem, é preciso não cometer injustiça nem lançar inocentes à fogueira. É preciso também investigar, ponderar, ouvir alguns dos parlamentares acusados, pois se deve preservar aqueles que receberam recursos advindos desse "esquema" de forma inadvertida, ou seja, sem pleno conhecimento do tal "esquema" e da procedência desses recursos. Pois, sabe-se, alguns parlamentares pediram (e receberam), o que é procedimento absolutamente normal e de boa fé, recursos ao, à época, tesoureiro do PT para saldar dívidas de campanha (quando for esse o caso, claro). Se esse recurso veio de caixa 2 ou de esquemas de corrupção, alguns (ressalto: alguns) certamente sequer sabiam. Ou alguém acreditaria que o Suplicy ou a Heloísa Helena sabiam que recursos que receberam do partido eram de caixa 2 ou coisa parecida. Certamente não sabiam. Como eles, outros também. Que se vayan Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, José Janene, Pedro Henry, Sandro Mabel, "Bispo" Rodrigues e mais alguns parlamentares do PP, PL, PTB e PFL, paradigmas do que há de pior no Parlamento. Pois, sabe-se, esses partidos, salvo honrosas exceções que confirmam a regra, abrigam o que há de pior na política brasileira. Mas para se constatar esse fato, não é necessário nenhum escândalo de corrupção/caixa 2 ou CPI, isso é público e notório. E, aproveitando o ensejo, aproveitando a faxina: que se vayan exemplos outros do que de pior há na nossa política. Que se vayan pois ACM e ACM Neto. Que se vayan todos os velhos coronéis da política e seus rebentos. Que se vayan os mestres de um modo sórdido de se fazer política e que, agora, num misto de oportunismo e cara-de-pau, posam de paladinos da ética e da moralidade pública. Que se vayan Rodrigo Maya, Aleluia, Mão-Santa, Arnaldo Faria de Sá, Bolsonaro e tantas outras "Vossas Excelências". Que se vayan. Que se vayan. Mas, quanto a esses últimos aqui elencados, desgraçadamente, não teremos já a satisfação de vê-los cassados. Pelo menos não ainda dessa vez. Quem sabe numa próxima oportunidade? Num próximo escândalo? Numa próxima CPI? Quem sabe? Esses deveremos cassar nas urnas nas próximas eleições, negando-lhes um novo mandato. Mas para isso teremos que fazer, sem dúvida, uma boa reforma política. Teremos que fazer também uma verdadeira revolução no ensino desse país, notadamente no ensino público, para que os cidadãos, melhor educados e instruídos, aprendam a votar nos verdadeiros homens públicos e não em "coronéis", "bispos", "pastores", "xerifes", "delegados" e outras alcunhas tão sugestivas quanto deploráveis.
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