Pelos campos desalentados sertões adentro, nenhuma demora das chuvas consegue afastar as esperanças. O olhar do sertanejo é um rosário tomado de esperanças. As mãos do sertanejo é um oratório de esperançoso céu. A chuva não veio ainda, mas chegará no tempo certo. Assim diz o sertanejo. Tudo no tempo de Deus. Assim confirma outro sertanejo. Mas antes que as chuvas cheguem, os campos áridos já espelham o quanto brota de esperanças. Tudo seco ao redor, mas a catingueira floresce bela. A flor da catingueira, como um brinco dourado descendo rente a face magra da plante, demonstra o quanto de esperança viva nasce e renasce a cada instante. Pelas estradas, enquanto os marrons e acinzentados entristecem ainda mais a murcheza do mato, então surge o alaranjado-avermelhado da flor e do fruto da jurubeba. Um encanto aos olhos, mas também a certeza de que a seiva da esperança continua viva em cada pedaço de chão, cada tufo de mato, em cada planta que entristece por falta d’água. Assim também nas flores e nos frutos das cactáceas sertanejas. A palma definhando, secando, morrendo na fornalha do sol, mas de repente avista-se uma vida florando sobre seus espinhos. O mandacaru, o facheiro, o xiquexique, tudo comprova o quanto de vida vive quando já se acredita que tudo já esteja sem vida. As flores surgem, as pétalas se abrem, os frutos tomam forma e cor, os bagos se adocicam, as polpas se avolumam, as cores espantam entre os acinzentados ao redor. A vida sertaneja floresce assim. A vida sertaneja floresce nas esperanças tantas e que nunca murcham completamente nas plantas e no homem. A planta floresce e frutifica pela invisível gota d’água do tempo. Aquele mesmo tempo de Deus. O homem floresce e frutifica pela fé incontida no seu coração. A fé santa brotada de Deus. E pela prece, pela promessa, pela oração. Até que o olhar, logo ao abrir a porta ao alvorecer, diga que vai chover. E os braços, como aqueles braços sempre abertos do mandacaru em direção aos céus, se elevem para os sagrados agradecimentos e para receber chuva boa. Uma esperança nunca perdida. Nada teve fim, nada morreu perante o sertanejo. A fé sertaneja sempre resguarda a esperança de que amanhã será bem melhor. E talvez seja por isso mesmo, pela fé incontida que brota em esperança, que a vida sofrida é suportada. E que o sofrimento seja diminuído pelo remédio sagrado da fé. Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).
|