E depois?
"A revolução mais necessária, parece ser a mais improvável" - Herbert Marcuse Nesses tempos em que os noticiários falam de milhões de reais - ou de dólares – trocando de mãos – normalmente inescrupulosas - com uma frugalidade tal que parece tratar-se de um prato de alface, uma ninharia qualquer, a única impressão que me resta é a da falência dessa democracia inerte, de vitrine, bem como do, já ruim, Estado de Bem-Estar social.
Referi-me à nossa democracia como sendo “de vitrine” pelo seu aspecto meramente decorativo, freqüentemente exibido ao mundo como um belo exemplo de democracia. Ainda que esse “belo exemplo” seja forjado a cada eleição, quando somos forçados, sob a pena da Lei, a “escolhermos livremente” aqueles que irão legislar sobre nossas vidas, governar-nos e cuidar da nossa sociedade, administrando o dinheiro que nos é cobrado para fazer funcionar o sistema de “bem-estar social” que não funciona, visto que os cidadãos comuns, por sua própria posição dentro do organograma social, alijados que são da estrutura do poder, apenas tentam manter-se vivos, em busca de alimento e manutenção da prole. Para essa “livre escolha”, são-nos oferecidos candidatos previamente fabricados, forjados numa retórica enganosa, maquiados com recursos hollywoodianos de som e luz, cheios de efeitos especiais e interpretações dramáticas. Ora, não são gente como a gente. São personagens irreais, tão fictícios quanto seus programas promocionais que, como toda boa produção cinematográfica, custa bem caro e alguém tem que pagar a conta. Como aprendemos desde crianças que dinheiro não nasce em árvores, não sei o porquê da sociedade não protestar contra esse espetáculo carnavalesco cuja conta será paga por ela mesma. Ou seja, dentro desse modelo de democracia que nos é imposto, apertar o botão “Confirma” tem sido um gesto parecido com o apertar o botão da descarga do vaso sanitário só que, despejando algo com pelo menos seis zeros. Referi-me também ao Estado falido não em termos financeiros, pois, como lembrei no início, dinheiro em caixa existe, nas duas. Falido, porém, na sua missão precípua de promover o tal bem-estar social do seu povo. Sendo assim, o Estado deixou de ser, perdeu o rumo ou está vivendo uma crise de legitimidade – e não estou falando a respeito do governo – compelido pelas forças de mercado em torno das quais o mundo gira como se fosse uma das Leis da Física. O Estado tornou-se, assim, apenas mais uma empresa capitalista que não compete apenas com suas concorrentes mundiais, mas, e também sob a pena da Lei, com seus cidadãos, drenando seus recursos na forma de impostos. Pior ainda, uma empresa que não gera renda nem bem-estar, apenas consome como uma praga, gasta, desvia as riquezas que deveria produzir em benefício comum. O Estado tornou-se uma máquina de engorda para os que o administram e nós os carvoeiros que alimentam as caldeiras. O Socialismo sucumbiu à corrupção humana, os regimes totalitários sequer merecem alguma consideração, o Capitalismo fincou suas raízes. E este, por sua vez, já traz em sua natureza a necessidade de corromper como ferramenta adicional para a obtenção do lucro. Uma social-democracia de fato, nunca saiu do campo das idéias. O que nos reserva o futuro? Definitivamente, não sei.
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