Para não encucar fico recordando dos causos do interior. Sou um homem do interior, um matuto juramentado. Na capital me sinto um exilado. O que mais gosto no interior? Da vida amena, dos causos, dos boatos e dos fuxicos, além da cachacinha e das boas comidas. Tenho duas pátrias, Pesqueira (fim do agreste) e Arcoverde (Porta do Sertão). Nesta mal traçada vou falar de uma figura muito lembrada pelos mais adentrados nos anos em Pesqueira. Do poeta, jornalista e advogado sem diploma, Peixoto Sobrinho. Era um orador brilhante principalmente na tribuna dos juris. Fizesse calor ou fosse rigoroso inverno usava sempre um cachecol e se amparava numa bengala nos trinques. Era tido como sonhador e visionário. Todos gostavam dele. E o restavam, mesmo admitindo que fosse às vezes meio aluado. Juntava gente para vê-lo fazer uma defesa num juri. O interessante é no meio da defesa ele dava uma paradinha e pronunciava frases que nada tinham a ver com o julgamento, tipo: “Há momentos na vida que o homem tem que cascatear centelhas!”. Os jurados e o povo em geral achavam que era algo muito importante para a defesa. Fundamental. Num juri, defendendo um réu acusado de crime passional, quase no final de seu discurso, ele olhou nos olhos dos jurados recitou um verso de sua autoria: "Se tens no corpo um cemitério aberto / Vamos fazer o enterro do prazer". O réu foi absolvido por unanimidade. Esse Peixoto era um cara arretado. Inté.
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