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Crônicas
11/08/2005 - 10h02
Direto do galinheiro
Iracema Torquato
 

Fiquei pensando em não falar do presidente. Nem do PT. Decido e ainda me acho perdida porque todos só falam nisso. Parece que nada mais existe além do além disso. Então, fábulas. Para rever e suspirar.

Era, então, uma vez. Não! duas. Ou seria três? Era só uma vez, mas que valia por muitas. Naquele reino distante, havia um galinheiro onde todas as galinhas mães choravam, mas suas lamúrias e seus ovos já não enchiam os olhos de muitos. Embora sinceras, não atingiam os sentimentos do rei galo. Por quê? Foi o que uma coruja, metida à filósofa e a repórter, queria saber.

Começou consultando os tratados filosóficos de sua área. Nada. Depois, cansou e resolveu pesquisar a bíblia. Adão, nome do galo, não comera do fruto perdido. Ou comera?

Na dúvida, resolveu dar uma de independente. Afinal, todos nesse reino podem ser jornalistas, ou não?, pensou ela. Por sorte, o galo estava mesmo querendo falar da política interna e externa do galinheiro e recebeu a douta coruja com todo entusiasmo para a surpresa daquele pequeno reino.

A entrevista começou assim... meio que debochada. A coruja não sabia como haveria de tratar o rei. Ele não tinha os cabelos negros como as asas da graúna, mas se vestia com gosto e poderia passar por da elite, se ficasse com o bico fechado. Vivia com um baita charuto no bico e discursava como se fosse o seu último dia na terra e precisasse convencer os demais galos do reino que tinha o melhor canto, aquele que provocaria até a inveja do sabiá.

Aliás, ele detestava sabiás. Eram da elite, pensava.

Vou voltar... sei que ainda vou... (Mas que música mais sem pé nem pescoço, pensou o galo e logo foi tratando de tirar a modinha que outrora ouvira de um feudo distante).

- Senhor Galo, começou a moça coruja, você pode me dizer se a majestade de seu canto está alcançando a confiança de toda a nação?

- Oh! Mas é mole! Quer dizer, claro como o sol... que sim. As pesquisas não mentem nunca. Os pesquisadores que não são da vida, esses mentem bastante. Porque, veja! Eu tenho apenas um curso... A moça quer uma demonstração, ou prefere que eu chame outra emissora e depois a menina edita?

A coruja, que não era especializada, apesar ter sido aprendiz de jornalista, em cortes e serrotes, pensou logo que o galo estivesse falando de sua amiga chamada Dita.

- A Dita, Sua majestade, quer dizer, Vo - vo - ssa Majestade (gaguejou)... deveis saber que não entra nessa história. (Que coisa, pensou ela, já havia visto esse filme e não consultara a gramática para conferir o uso certo de pronomes de tratamento).

- Ora, ora, moça estudada como você, doutora, não precisa de ditas e nem dos ditos. Falei por falar, quer dizer, por ser o mais honesto dos honestos galos desse reino.

- É verdade que Vossa Excelência tudo vê, tudo escuta? Que preza a omnilateralidade política, principalmente, quando essa provém de qualquer suporte que não seja da elite?

- No Prano do Ágora do Puleiro - Mór, não dá pra gente tudo ver e saber. O partido do Prano cresceu muito. Eu disse pros companheiros galos que o social era... o que era mesmo? Posso falar bobagens, pra muitos... que não sabem o quanto a elite desse galinheiro já me desprezou. Como bobagens, mas não produzo estercos com bobagens, nem rasgo o canto que invento pras galinhas.

- Ah! Com certeza! Você, Excelência, gostaria de mandar algum recado... Diga logo, que preciso de um furo. Já furei fila e filas...

- Só digo quando tenho razão: uma coisa é trocar 9 por 10, na lógica ilógica da vida partidária das elites. Outra é não trocar, quando todos pensam que é pra trocar e... mudar, quando é mesmo pra não mudar. Abaixar já é outra coisa. Quem abaixa, pode mostrar. Então, tudo deve ficar alto que é pra o puleiro ficar no nível. Certo? Nunca ouvi falar em "milhão". Milho grande, entende? Aqui comemos do bom churrasco de carne seca. Carne gorda é pras elites, mas a gente, quando pode... também come.

- Por fim, Pequeno Príncipe... Quer dizer... Majestade... Desculpe, me enganei. (São todos tão parecidos, pensava ela) - Mas... Me responde... Achas que gaúcho, daqueles... tchê mesmo, vai votar em ti? E, bah! a última...: A esperança ainda vence o medo, ou o medo "a(é)cido" das elites já era?

- Primeiro: aqui nas terras do meu reino, quem manda mesmo é quem tem um olho só. E não adianta invasão. Segundo, meu primo curió Pubri Otário preferido não gosta de briga entre nós, não. E já inventou um chorinho pra próximas eleições que não vai falhar (no ritmo do pau no galo, cultura popular... entende?): Atirei o pau nos outros, tros, treis. Mas os ou...tros treis não morreu réu réu. Dom Roberto tô to. Tá comigo go go. Do berrô, do berrô (mata ou morre) que o Fani-quito deu.

Salve, salve a esperança, porque, meninos! não vi, não ouvi...

Da grotesca terra nasce a pedra, que não está no meio de nada,

Rasguem tudo que a terra há de comer, que fiz e não-fiz.

Que um mais alto clamor se alevanta.

No nada há o tudo que reorganiza o mercado, o discurso do outro e o nosso.
Que louva a arqueologia do saber do louco, do tonto e do douto.

Galos e galinhas, não verás outro reino como esse!

Enxuguem as lágrimas!

Aqui tudo se sente, nada se vê, mas ninguém canta mais bonito.

Aqui tem puleiros e polivaleria, onde todos podem pular.

Tem a mesada que todos podem gastar,

Tem games, teles e bingos.

Hortelão, melão, mensalão.

Tem cachoeira e choradeiras.

Tem pizza hot...

Carnavais pra todos os gostos.

Aqui somos todos amigos do polvo.

***

Moral da história: Quem ama os galos, confia em galos, repete com os galos: de puleiro, em puleiro, as malas vão, as esperanças não.


Nota do Editor: Iracema Torquato é professora.

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