O jornalismo, em sua essência, seria um servo da sociedade. Isso mesmo: um servo que procura informar a todos com maior fidedignidade possível aos fatos e com resoluta sinceridade. Desenrolando esse carretel: não há nada de errado se um comunicador, um formador de opinião, for de esquerda, de direita, do centro, do avesso ou de revesgueio. O que realmente interessa é sabermos se o caboclo procura ser, de fato, intelectualmente honesto. Não é de neutralidade que estamos falando. Aliás, esse papo de neutralidade, em si, já é um claro sinal de falta de integridade, pois ela, a suposta imparcialidade, é o esconderijo preferido dos canalhas. Uma pessoa honesta, em termos intelectuais, não é neutra diante de um erro, nem imparcial frente a verdade. Dentro de nossas humanas limitações devemos nos esforçar para identificar os inúmeros erros e rastrear as pistas deixadas pela verdade. Se não temos esse sincero intento em nosso coração, o melhor que temos a fazer é abandonar os betes e ir brincar de outra coisa. Doravante, se dermos um passo para diante, podemos dizer que todo bom profissional de comunicação deveria apartar em sua fala o que seria a dita cuja da notícia e o que seria o seu entendimento sobre o que foi noticiado, sempre deixando claro o seu posicionamento; de modo similar a São Paulo Apóstolo, que em suas epístolas separava, de maneira cristalina, o que lhe fora revelado pelo Espírito - ou seja, a Verdade - e o que era meramente orientação sua, um ponto de vista dele. Por isso penso que temos muito a aprender com as epístolas daquele que se fez tudo para falar a Verdade ao coração de todos. Enfim, tudo isso é muito simples, de fácil compreensão, porém, “sacumé”, essa tal probidade intelectual está meio que em falta nos dias em que vivemos. Infelizmente. De mais a mais, poucos estão dispostos a admitir sua dose de culpa nesse entrevero todo. Sim, isso é algo meio que difícil, bem difícil, tendo em vista a soberba intelectual, fantasiada de relativismo, que acabou por tomar o lugar da probidade intelectual no século XX e que impera nos corações diplomados do começo deste século XXI. Soberba essa que, por sua porca natureza, corrompe tudo aquilo que toca. Não é à toa que parte significativa da grande mídia, da academia e dos formadores de opinião presumem ser os árbitros da sociedade, caindo na tentação de instrumentalizar as informações ao invés de humildemente comunicá-las. Não é por acaso que as redes sociais estão tomadas por haters que vagam a esmo pelos bits silvestres procurando algum perfil desavisado para, sob e sobre ele, defecar suas abjetas maquinações cerebrinas, imaginando, é claro, que por fazer esse serviço suíno estão agindo criticamente em nome dum mundo melhor. Por fim, como havíamos dito antes, pouco importa a posição política que adotemos, o que realmente interessa é que não coloquemos nossas convicções, crenças e crendices acima da verdade, além da honestidade e à frente da humildade.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|