O modo petista de governar desandou para o modo petista de falar. E vamos combinar que este último é muito superior àquele. Não há como não nos deixarmos seduzir pela precisão de conceitos e fertilidade dos conteúdos. O país, como bem sabemos, vive uma crise. Ensina-nos o PT que dita crise nada tem a ver com o governo. É uma crise originada na falta de valores republicanos e o melhor encaminhamento que se pode dar às dificuldades da hora presente passa por rigorosa investigação, com critérios republicanos. E para que seja absolutamente republicana, deve começar pondo em pratos limpos o preço efetivamente pago pelo cavalo do marechal Deodoro da Fonseca. Durante certo período, semanas atrás, a atitude mais republicana que se poderia adotar era impedir que o Congresso investigasse as denúncias que pulavam das páginas dos jornais como pipoca aquecida. Pipoca não republicana, claro. Republicano, naqueles dias, era impedir a formação da CPMI e deixar que a Polícia Federal cuidasse do assunto. A solitária decisão do senador Suplicy ao assinar pela instalação da Comissão de Inquérito não foi um gesto republicano. Republicano teria sido desassinar. A vida continuou, no entanto, e a CPMI virou coisa republicana, como já se aprendeu, embora certos integrantes da comissão, desalinhados do governo republicano do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, não sejam tão republicanos no seu modo de agir, fazendo perguntas muito inconvenientes e extraindo ilações não republicanas. A Polícia Federal promoveu uma mega-operação republicana no não confessado Caixa 2 da Daslu, e levou livre o público e notório Caixa 2 do PT, onde nem um disquetezinho foi buscado. Tal contradição se explica com o fato de que o PT, como partido republicano, não tem Caixa 2, mas tão-somente recursos não contabilizados. E se você, leitor, não sabe a diferença entre uma coisa e outra é porque não está imbuído de valores republicanos. Quando o presidente Lula, expressão máxima do republicanismo, afirmou que "com ódio ou sem ódio vão ter que me engolir", não proferiu um disparate, mas afirmou coisas importantíssimas. Expressou que o ódio não é um sentimento republicano e engoli-lo sim. E não citou nosso velho Zagallo, como muitos, equivocadamente, imaginaram, mas, ao seu modo de dizer, reafirmou um compromisso republicano com o programa Fome Zero. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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