“Vá procurar uma mala de roupa suja pra lavar!”, conselho dado a quem, por alguma razão, está sendo indesejável em alguma situação. Quem nunca escutou isso? Eu já. E com certeza você também. O conselho é bom? É! Lavar uma mala de roupa suja pode ser uma tremenda ocupação pra quem não tem o que fazer, ou pelo menos pensa que não tem, e fica infernizando a vida dos outros.

Lavar roupa suja é antes de tudo um ato simbólico. É pegar peças enlameadas, manchadas de óleo, poeira e suor, com cheirinho esquisito - já reparou que cheirinho desagradável há nas roupas sujas? - e deixar tudo limpinho, tanto que dá até vontade de ficar com a peça limpinha diante do nariz só pra sentir o aroma gostoso e refrescante. Aliás, para mim, um dos cheiros mais aconchegantes que existem é o de roupa limpa.

Pois bem, lavar roupa é quase terapêutico. E não falo da máquina de lavar. É lavar à mão mesmo. Mergulhar a roupa suja na água, esfregar cada mancha, passar sabão em barra, fazer bastante espuma, deixar agir, até vê-la sumir. E quando a mancha é teimosa... Aí sim, vira um desafio. Levar ao sol, deixar quarar - ou corar, sei lá. O fato é que depois de alguns minutos de exposição aos potentes raios do astro-rei, cadê a mancha? Milagrosamente, ela evadiu-se! Impagável, a sensação de ver a roupa livre da sua antiga mácula, pronta pra uso novamente!

“Roupa suja se lava em casa”... Essa também todo mundo já ouviu e sabe exatamente o que quer dizer: resolva seus conflitos particulares, no particular de sua casa! Ninguém é obrigado a participar da resolução de problemas que não procurou, e por razões óbvias, não lhe pertencem. Então, se a briga é sua, tranque suas portas e resolva-a entre quatro paredes. Quem precisa tomar parte na lavagem da sua sujeira pessoal? Deixe-a pra você e resolva-a com seus sabões! Reserve apenas os resultados já transparentes e aromatizados para apresentar a quem não teve nada a ver com ela.

“Tem gente que é igual trouxa de roupa suja, incomoda em todo canto”. Isso, ouvi de alguns mais velhos. E nem precisa pensar muito pra se identificar as trouxas que estão à volta. Todo mundo, ou quase todo, tem a sua. Onde quer que estejam, as trouxas fazem questão de amolar. E nem com todo sabão do mundo a gente consegue se livrar. Inútil também querer pular pro amaciante. Por mais que se rodeie o incômodo com uma tampinha de maciez, a coisa não surte efeito. Resta ir rolando a dita mala pra lá e pra cá até ver se um dia alguma Brastemp resolve a questão.

Certo e correto: lavar roupa ocupa o tempo de forma eficaz e ainda se faz economia. Vai longe o tempo das mulheres que “lavavam pra fora”, aquelas que andavam longe com suas enormes trouxas na cabeça para buscar e levar roupa à casa das patroas. Hoje, grande parte da lavagem está com os tanquinhos e lavadoras cada vez mais sofisticados. Só “jogar” lá dentro, e à custa de produtos também cada vez mais arrojados, as peças saem prontinhas para o varal. É prático? É! Mas perde-se a oportunidade de se exercitar o processo da limpeza interior cada vez que se transforma a roupa imunda e malcheirosa em algo novo pra se usar outra vez. Há realmente uma simbologia muito importante aí... A gente também se renova sempre que dá jeito pelas próprias mãos numa monstruosa trouxa de roupa suja. Vamos lá! Hoje é dia de terapia, gratuita e restauradora!