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Crônicas
06/08/2020 - 06h40
Celso, admirador de João Pessoa
Damião Ramos Cavalcanti
 

Está na letra e na música das cantigas, nos versos dos violeiros, na memória dos repentistas, “o Nordeste sofredor”. Nem o amor dos romances atenuou a discrição da crueldade em seus excessos, que passava, velozmente, de boca em boca, de ouvido a ouvido, e até de olho a olho, de leitura a leitura. Tudo numa rapidez demorada, como se prometesse não acabar ou aliviar a expressão de tal violência, que dava ares de crueldade aos ventos, quase como numa guerra de todos contra todos, guerra que, segundo Hobbes, definir-se-ia, numa realidade assim, a violência como “um estado de natureza”. E também ou sobretudo, uma concorrência para escapar, embrenhando-se nas matas e veredas, fugindo da homogeneidade das necessidades e dos sofrimentos, enfim, tendo medo de enfrentar a miséria. Mas, tal violência não é um “estado natural”, como a narração corriqueira, da lavadeira, lavando roupa sobre a pedra, na cacimba, à beira do rio Paraíba, em Pilar: “O cangaceiro esfolou o dono da fazenda, devagar, com a ponta do punhal, como se estivesse desfazendo renda”. Disso, pouca explicação se encontra, mesmo na distinção de modelo hobbesiano, seja em contraponto a Rousseau ou a Marx. Socialmente, a violência assim era a erupção dos velhos demônios, no fervilhar da miséria, nutrida pela fome, pela sede e pela seca, com requintes de arbitrariedade e de violência.

Do jeito em que estava não dava para continuar. E quando o natural não possibilita a solução, tampouco ajuda a corrigir o problema, o homem recorre ao que está acima do natural, apela ao sobrenatural. Foi também assim que Celso Furtado observou os fenômenos religiosos, no Nordeste, como o aparecimento dos milagreiros. “Nesse mundo marcado pela incerteza e pela brutalidade, a forma mais corrente de afirmação consistia em escapar para o sobrenatural. Os grandes milagreiros existiam não somente como legenda, mas também como presença. Não longe de onde morávamos, reinava o Padre Cícero, cujos milagres atraíam legiões de peregrinos (...)”, a quem se atrelavam os chefes políticos e até Lampião para “fechar o corpo” contra as balas da polícia.

Desde seus oito anos, o pré-adolescente Celso começou a ouvir, a observar que tinha surgido um líder diferente, que unia as esperanças dos milagreiros às qualidades de um esperado “chefe político”, reformador do status quo. Era então João Pessoa. Assim o descreve Celso: “Dirigindo-se ao povo como se fora seu protetor e passando por cima de todos os formalismos legais, conseguiu mobilizar a população de forma só comparável aos movimentos religiosos (...). O assassínio brutal desse homem (João Pessoa), exatamente no dia em que eu completava meus dez anos, provocou uma tal angústia coletiva que ainda hoje não posso me recordar sem me emocionar.” No Tribunal, Gandhi, prevenindo-se das ameaças de morte, assim se defendeu: “Não-violência é o primeiro artigo da minha fé. É também o último artigo do meu credo”. Mesmo assim as elites na Índia, com simpatia inglesa, mataram-no. Por aqui, houve procissões, não como as de Padre Cícero, em Juazeiro do Ceará, à frente, com uma vela num candeeiro de zinco, mas com João Pessoa morto, assassinado como outros líderes, da Índia a outros países, aos Estados Unidos que têm muita história sobre isso. É também História a admiração, desde a infância, de Celso Furtado por João Pessoa. Ambos vultos paraibanos admiráveis...


Destaque da crônica: É também História a admiração, desde a infância, de Celso Furtado por João Pessoa. Ambos vultos paraibanos admiráveis...

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