Sempre se disse que os tempos difíceis nos ajudam a conhecer alguém melhor e os tempos difíceis da pandemia nos têm mostrado algo terrível: como conviver com um narcisista pode ser realmente insuportável. Se antes tínhamos nossos trabalhos e vida social para nos mantermos afastados, a convivência forçada tem feito muitos viverem um verdadeiro inferno. Como a existência do narcisista só possui sentido ao atormentar alguém, os que se veem obrigados a conviver com eles estão se sentindo sufocados, presos e atormentados. Muitos definem o lar onde um narcisista impera como algo pior que um purgatório ou campo de concentração.

Narcisistas querem sempre ser o centro das atenções, como se os outros fossem meros satélites e eles o sol, o astro-rei. Ninguém consegue ter sossego se vive com um narcisista numa mesma casa. O tempo todo, ele fará de tudo para chamar sua atenção, irá lhe perseguir e atormentar. Irá lhe procurar para reclamar do que você faz, apontar seus defeitos, vangloriar-se, como se tudo que ele fizesse fosse o equivalente a carregar o mundo nas costas. Nada do que os outros fazem é bom o suficiente. Na quarentena, em que muitos estão passando os dias em casa e têm mais tempo para serviços domésticos, podemos ver bem como é ter um narcisista por perto. Você pode limpar toda a casa e cozinhar e ele, além de colocar defeitos em seu trabalho e lhe subestimar, irá se intrometer para dizer que faz tudo mais e melhor que você, atrapalhando seus serviços.

A convivência com eles é um suplício. Eles só tratam os outros como inferiores, falando num tom didático e dogmático, como se as demais pessoas precisassem que eles lhes explicassem as coisas mais básicas. E, quando eles começam a falar de um assunto, é sempre com aquele insuportável ar de superioridade. A gente pode dizer que fazem mesmo questão de ensinar um padre a rezar missa. Se você estiver trabalhando em algo e o narcisista aparece, prepare-se. Ele pode dizer que você precisa de ajudar e você, mesmo que precisa, não quer a ajuda dele. Para o narcisista, só existe uma maneira certa de fazer as coisas. E é sempre a maneira deles.

Além disso, eles têm um prazer mórbido em provocar quem está quieto. Ficam a provocar a pessoa com ironias, piadas maldosas e insinuações. Eles passam o tempo a se exaltar, falar dos seus menores feitos como se fossem as coisas mais grandiosas e também ficam a se dizer sofredoras, falar que carregam todas as responsabilidades da casa e da família, que os familiares são um peso e não os compreendem.

Caso eles estejam velhos, a coisa será pior. Usarão a idade como escudo para obter vantagens e simpatia. E, no caso de fazerem algum trabalho, irão se lamentar: “Ah, como pode um velho doente ter de trabalhar?”

Com certeza, há pessoas que chegam a pensar que seria melhor saírem e se exporem ao risco de contrair o COVID-19 do que permanecer em casa, convivendo com gente dessa qualidade.