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Crônicas
27/08/2020 - 06h56
`Sereia às avessas´
Marina Alves
 

Ah! Fiquei muito emocionada e chorei! A cena na TV mostrou o engenheiro eletricista, Jean Carlo Ranucci, vítima da Covid-19, em recente recuperação contando as experiências que viveu enquanto esteve doente. Ele que sentiu a chance de estar renascendo para a vida, após conseguir se salvar, colocou numa rede social um apelo: queria conhecer “as vozes”, sem rosto que o cercaram durante seu período de internação.

Ouvir depoimentos assim faz a gente se colocar no lugar de quem esteve tão perto da morte. Faz a gente experimentar, por mínimo que seja, um pouco do que vivem as pessoas acometidas pelas formas mais graves da Covid e precisam ser entubadas. É um período de total ausência da vida, um afastamento do mundo, das pessoas amadas, e de si mesmo, para mergulhar num outro universo, incerto e sombrio. Estar entregue às mãos de médicos, enfermeiros e auxiliares é a único caminho para retornar à luz... E disso não há quem possa fugir.

Jean Carlo esteve por algum tempo ausente de tudo e só conseguia ouvir as vozes que o cercavam na UTI. E foram os donos destas vozes, os únicos vínculos que ainda o mantinham conectado a uma antiga realidade. Por essa razão, quando conseguiu vencer o desafio da morte, ele quis conhecer os anjos que o cercaram durante os dias difíceis que viveu. O encontro virtual aconteceu, num momento de grande comoção: dentre as pessoas que o assistiram, Jean pôde enfim conhecer Vania, da Equipe de Higienização, que cantava para ele. Parece bobagem? Pode até parecer. E até seria se não tivesse acontecido em situação tão adversa.

Durante o contato virtual, Vania cantou novamente um trecho da música que ficou como uma marca daqueles dias tenebrosos... Juntos, Vania, Jean e a esposa choraram. Um misto de emoção e gratidão era visível naquele copioso choro de quem sente a importância do simples gesto de ouvir o canto de alguém quando tudo parece perdido num mundo distante e quase irreal.

Neste mês de agosto, lembramos o Folclore e dentro dele, a sereia, figura que se compõe como metade mulher e metade peixe. Segundo a lenda, com seu encanto, ela emerge das águas e com seu canto misterioso atrai os homens e os enfeitiça. Após encantá-los, ela os arrebata para o fundo das águas. Os pobres enamorados, tomados pelo fascínio de tão bela voz, mergulham nas profundezas das águas, perdendo suas vidas... O canto da sereia, embora belo, é um canto de morte, um canto traiçoeiro...

No caso de Jean, o canto de Vania é um canto de sereia às avessas, melodia para a vida que, dotada de um encanto especial, soou como uma exaltação de esperança e superação. Ao contrário da sereia, Vania cantou para fazer viver. E vê-la cantando - e chorando junto com o homem que ajudara em momentos de dor, medo e solidão é uma das cenas mais lindas, entre tantas, que a história da pandemia há de contar... E desta vez não há lenda alguma... Felizmente, houve um final feliz!

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