As enciclopédias e dicionários dizem que pai é (1) homem que tem um ou mais filhos; (2) animal do sexo masculino que gerou outro; (3) Deus, no sentido bíblico; (4) protetor etc. Parece que hoje a coisa mudou. Pai é, quase sempre, apenas alguém que tem um barco para comandar e sabe que as suas mãos calejadas talvez não tenham mais força para levar a nau e tripulantes a um bom porto. De qualquer forma, cá estamos em novo dia dos pais. E o presente? No duro, o que me vem à mente é que o pai é um ser periférico. As mães, primeiras hospedeiras dos filhos, deixam isso bem claro para eles: eu é que sou importante. Eu é que sofro. Eu é que educo. Eu isso e aquilo. O pai, bem, o pai é apenas um pai. Sou pai do século passado, mas ainda não entendi bem a razão de nos cobrarem tanto e, em contra-partida, não nos darem muito? Cobram atitudes, comportamento, amor, dedicação, presença e parece que esse ato de cobrar se esvai nele mesmo. Tenho conversado com muitos pais, especialmente pais já maduros, de filhos adolescentes e adultos. E percebo, em muitos, um sentimento de desapontamento em relação aos filhos. São pais na hora dos problemas, das crises, das angústias, mas são esquecidos nas horas do bem bom, na alegria pelas vitórias pessoais, quando acontecessem. Desde Freud e seus seguidores, vem sendo dito que é preciso "matar o pai" para poder crescer. Se não é assim, é algo parecido, segundo os psi. Creio que a nova geração de jovens e adultos jovens levou essa história ao pé da letra. O pai é uma espécie de estepe, fica ali próximo, na reserva. É natural que o filho precisa crescer e tomar decisões próprias, daí, quem sabe, a idéia de isolar o pai e não se deixar contaminar por "sua experiência meio ultrapassada". E se o velho sofrer com isso: "paciência, todos sofremos". É provável que o pai, como todos os seres humanos, seja carente e, por tal razão, queira estar mais próximo, não apenas quando o circo pega fogo, mas no dia em a turma sai para festejar ou quando a sua opinião, mesmo não tão esperta, possa servir de alguma forma como balizamento em decisões. Pai não tem diploma de competência, certificado de santidade ou de referência de vida. Pai é apenas um cara que nasceu antes, escolheu e amou uma mulher com quem gerou filhos. Isso não o faz iluminado, semideus e paradigma de virtudes. Penso que o maior presente que o pai deseja do filho é apenas ser reconhecido como sua imagem e semelhança, sem essa de patriarca, mas com a afetividade do amigo que entende o outro por ter defeitos parecidos.
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