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Crônicas
08/10/2020 - 06h28
A primavera sem algumas flores
Damião Ramos Cavalcanti
 

Vinicius de Moraes, ao convidar-nos para olhar a “coisa mais linda, mais cheia de graça (...) a caminho do mar”, poderia haver se inspirado nela, a primavera, a única estação feminina em companhia do verão, do outono e do inverno. Na França, ouvi chamá-la de Le printemps, no masculino, e duvidei terem cometido equívoco naquelas culturas dos gêneros masculino, feminino e neutro. Tanto aqui como lá, Le printemps não nega ser tão mulher como a prima Vera, assim chamadas tenho mais de uma dezena de primas. Avaliemos o jeito de como a primavera aparece lá e alhures à natureza: veste-se de cores como o arco-íris; orna-se de flores adolescentes, e é a estação do ano que se iguala a um jardim, que mais naturalmente se perfuma e exala aromas para prazerosas e perfumadas essências, ao ventilar, pelo mundo, flores de algum enfeitado jardim. O outono é vento esvoaçante das folhas mortas; o inverno, portador de água, neve e frio; o verão, cheio de luz e energia, esquenta-nos com o sol; somente a primavera é totalmente beleza e doce brisa, tempo e espaço dos amantes que, casados ou enamorados, aguardam, como a terra cantada por Milton Nascimento, o cio das estações, quando as flores dão néctar às abelhas e aos beija-flores, abrindo-se e fazendo amor, fertilizando-se com promessas de frutos.

A professora ensinou, talvez virtualmente às crianças, que, nesse 22 de setembro, a primavera se iniciou no Brasil. Aprendemos a atribuir belos significados à primavera, oxalá se iniciem também com essa de agora outras promissoras primaveras, tais quais benéficas ventanias despojando árvores das folhas amareladas, como retirando roupas de frio, devolvendo-nos ao esplendor do sol e à sensação de que, nus como a natureza, sintamo-nos gozadores da sensação daquela maior liberdade. Não é por menos que, quando saímos das sufocantes opressões política ou social, dizemos que reconquistamos nova primavera. Nesse sentido, o mundo está carecendo que sempre esteja a acontecer primavera, nas quatro estações do ano, em todas as terras, em todos os corações. Festejar a primavera é escutar os pássaros cantando, em harmonia com as pedras sob as correntes da água, no leito das montanhas, descendo aos verdes e floridos prados. Nesse sentido, o tempo seguirá em frente, e nós nesse comboio, mas quem perder de vivenciar essa estação primaveril deverá refletir que a vida é uma estação atrás da outra e que não vale a pena perder sequer uma primavera. Essas viagens são diferentes uma da outra, talvez por isso, em tempos mais sublimes, Friedrich Schiller (1759 - 1805) poetizou: Des Lebens Mai blüht einmal und nicht wieder, o que seria por aqui: “A primavera da vida floresce uma vez e nunca mais”...

Nesse ano de 2020, viajamos muitos dias, num túnel escuro, em algumas semanas misturando sextas, sábados, domingos e segundas. Perdemos o tino do tempo sequencial dos dias, imagine das estações, passando a primavera, diante das nossas janelas, despercebida, sem ser comemorada como fazem as enamoradas e os enamorados, deitados no gramado da praça, em Buenos Aires, mirando o céu , entre os ipês floridos em diversas cores, e aqui e acolá dançando tango. Nesse período de isolamento, se falhou a memória, segundo Gilberto Gil, “pelo sim, pelo não”, a primavera “não costuma falhar”, ela está aí, sucedendo o inverno, antecipando-se ao verão; em temperatura amena, desde meados de setembro até quase final de dezembro, dando-nos a paisagem de folhas e flores. Ela vai esquentando até se entregar aos braços quentes do verão, na quase igual cor e paisagem. Que bom , num desses prazerosos momentos, ouvir as cordas despertadas pelo Padre Antonio Lucio Vivaldi (Veneza: 1678 - Viena : 1741), tocando das Quatro Estações, A Primavera, complementada pelos pássaros.

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