Período pós pleito eleitoral sempre é um trem complicado à beça. Dum lado temos aqueles que estão faceiros da vida e, do outro, as pessoas que estão num estado de amargor tal que não dá pra ralhar. Graças a Deus temos esse tipo de cena de quatro em quatro anos onde uns comemoram e outros lamentam. Algumas vezes somos nós que estamos macambúzios, outras vezes somos aqueles que estão mergulhados em um mar de júbilo. Mas não é sobre isso, exatamente, que gostaria de matutar através dessas linhas tortas. Não. Minha intenção aqui é simplesmente compartilhar duas observações que, pessoalmente, considero-as muito importantes nesse clima agridoce após o fechamento das urnas. Primeira observação. Um dito que frequentemente se ouve durante uma corrida eleitoral, da boca de inúmeras pessoas, é que elas não querem perder o seu voto. Elas querem porque querem votar no vencedor para poder se refestelar junto da quermesse democrática. Eis aí uma das grandes canalhices que se faz presente na alma [depre]cívica brasileira. Isso mesmo que você leu: canalhice. Não se preocupe que já explico esse meu ponto. Primeiramente é importante lembrarmos que as batalhas de maior valor na vida duma pessoa são justamente aquelas que parecem estar perdidas perante os olhos de todos. Vencer por vencer é uma coisa tão vazia quanto comer por comer, ou transar por transar. Em segundo lugar, lembro-me sempre, quando finda um pleito, da fala duma grande amiga que, certa feita, havia me dito que ela saberá se ela perdeu ou não o seu voto daqui a quatro anos, não agora após a apuração. Batata! É isso aí. Um voto, antes de qualquer coisa, é uma aposta que o cidadão comum faz cujo resultado apenas o tempo dirá se será compensador ou não. E ele, o tempo, diz mesmo, sem dó nem piedade. Segunda observação. Ao fim da tarde de domingo, um senhor, um grande amigo meu, caminhando faceiro da vida, ao ver-me na rua, veio até mim para cumprimentar-me e puxar um cadinho de prosa. Obviamente que o assunto era o resultado das eleições. No meio da prosa ele disse algo que, certamente, tira o sono dos donos do poder - dos grandes e dos pequenos. Disse ele: o povo está diferente, está votando duma outra forma graças a essas redes sociais (de maneira especial o whatsapp). Esses caboclos, falou meu amigo, não tem mais como ficar enganando a gente como eles faziam antigamente. E verdade seja dita, ele está certíssimo. Sim, é claro que existe a possibilidade de sermos manipulados. Aliás, desde a aurora dos tempos, quando tínhamos apenas o gogó, a possibilidade duma pessoa manipular outra já existia. Porém, o que as redes sociais entregaram nas mãos das pessoas comuns foi uma ferramenta que lhes permite ter acesso fácil a inúmeras informações que até então não tinham como saber. Não apenas isso. As redes sociais são um instrumento incrível para gerar conteúdo e informar os nossos concidadãos. Sim, eu sei, existem inúmeras mentiras que circulam pelas redes. Todos sabemos. Mas, mais uma vez, digo e repito: desde a primavera dos tempos que as pessoas mentem e tentam passar a perna um no outro. Isso não é uma novidade trazida pelas redes sociais. O que é um fato novo é que as pessoas têm em suas mãos um meio que lhes faculta a possibilidade de verificar as informações que recebem e confrontá-las com outras que ele poderá procurar e, após essa confrontação caipiramente dialética, tirar uma conclusão minimamente razoável sobre o assunto. Por isso meu bom amigo disse o que disse. Ele viveu muitos pleitos e lembra como uma mentira demorava para ser desmascarada. Hoje, os tempos são outros e, devido as novas tecnologias, a dinâmica eleitoral mudou também. Obviamente que isso não significa que agora todos os candidatos eleitos por esse Brasil de meu Deus serão exímios estadistas. Nada disso. Continuaremos a ter problemas, continuaremos errando, colocando os pés pelas mãos, porque isso faz parte do jogo político e, principalmente, da natureza humana. É claro que muitos dirão que o povo não sabe votar. Pois é. Mas quem é que sabe fazer isso? Eu não sei. Me viro nos trinta de dois em dois anos pra ver se não erro tão feio. De mais a mais, democracia é isso: um perene aprendizado tanto para os eleitores quanto para os candidatos e, por isso mesmo, podemos acabar errando aqui e ali. Somente os criticamente críticos que, com seus tapumes ideológicos, acreditam saber como fazer isso de forma certeira e mortal. Enfim e por fim, que Deus abençoe a todos, os eleitos, os não eleitos e o povo de um modo geral, e que nos anos que estão por vir possamos dar um ou dois passinhos para frente e nenhum para trás. E fim de prosa. Away.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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