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Opinião
27/11/2020 - 06h57
No bico do corvo
Dartagnan da Silva Zanela
 

Dizem os antigos que não devemos cuspir para cima porque, obviamente, estaremos escarrando na própria cara. Todavia, como somos teimosos feito uma mula, nós fazemos isso com uma grande frequência e não aprendemos a lição. De jeito maneira.

As situações e encrencas que nos metemos, praticamente todo o santo dia, ilustram muito bem a sabedoria desse velho dizer.

Noves fora zero, vejamos: vocês se lembram daquelas imagens dos chamados médicos da peste com aquelas roupas maneiras? Homens com casacos pesados, usando máscaras de bico de corvo e com olhos vidrados. Um espetáculo, não é mesmo?

Pois é. O bico, um baita bico, era recheado com materiais perfumados como âmbar, folhas de hortelã, erva-cidreira, cânfora, cravo, mirra, pétalas de rosa, entre outras coisinhas cheirosas.

Tal indumentária, com a máscara cheirosa, era utilizada para proteger seu usuário do ar miasmático que, segundo teoria vigente na época, era o responsável pela desgraceira geral.

Não apenas isso. Diziam que a máscara tinha a feição de um corvo porque as aves não eram afetadas pelos miasmas. Ora, nada mais lógico: se o indivíduo estivesse utilizando uma máscara de passarinho, isso ajudaria a protegê-lo contra o flagelo da peste.

Pois é. E tudo isso era baseado nos mais avançados saberes científicos da época.

Os séculos passaram e cá estamos nós no terceiro milênio tendo todo santo dia notícias e mais notícias sobre qualquer vírgula a respeito da peste do Xing Ling e, para nos proteger dos furtivos ataques virais, também estamos usando máscaras, porém, as focinheiras modernosas não são estilosas como as de antanho e nem um pouco aromáticas.

Venhamos e convenhamos: uma coisa é ficarmos sentido o cheiro agradável de pétalas de rosa e hortelã durante o dia, outra bem diferente é ficarmos respirando o próprio bafo.

Seja como for, até pouco tempo, todo “senhor científico” ria e fazia pouco caso da galera que enfrentou os tormentos causados pela peste com suas máscaras, fruto das “superstições” miasmáticas. Hoje, esses mesmos caboclos, com sua “consciência criticamente crítica”, usam as suas máscaras de pano, ou de qualquer coisa similar, como se essas fossem uma espécie de mandinga, como um patuá, que irá protegê-los contra todos os males, amém.

Sim, eu sei que esses caboclos se apegaram a essa superstição por crerem que ela é “cientificamente comprovada” [por meio de canetadas. Estou sabendo]. Mas os usuários das máscaras de corvo diziam a mesmíssima coisa e, hoje, nós sabemos muito bem que as mesmas não tinham a eficácia proclamada e, com tempo, o mesmo será dito a respeito das máscaras atuais. Quer dizer, já está dizendo e, mais uma vez, gostemos ou não, acabamos cuspindo pra cima.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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