Eu acho esquisito uma cidade fazer aniversário. Eu acho esquisito, ué, o que é que eu posso fazer? Primeiro porque a gente não sabe direito quem é que deve receber os parabéns. O prefeito? A primeira dama? O presidente da Câmara? Ou o seu Adamastor, que mora ali na esquina?

Sempre que eu vejo esses anúncios, nos jornais e na televisão e nas revistas, dando parabéns pelo aniversário de uma cidade, eu imagino a cidade ali, toda embaraçada com seus prédios e casas e ruas, soprando uma velinha, e as outras cidades em volta, com aquelas mãos enormes, feitas de esgotos e asfalto e favelas, batendo palminhas para a outra cidade e cantando o parabéns a você. É uma visão esquisita, eu sei, mas o que é que eu posso fazer se é isso que me vem à cabeça toda vez que uma cidade faz aniversário?

Pra falar a verdade, eu acho meio esquisito comemorar o aniversário de gente de carne e osso também. Porque, se você pensar bem, os nossos aniversários são meio que uma contagem regressiva. A gente está acostumado a contar o aniversário como se a gente fizesse MAIS um ano, a gente até canta "muitas felicidades, muitos anos de vida" em volta do bolo e tudo o mais, mas a verdade é que cada vez que a gente faz aniversário, isso quer dizer que é MENOS um ano que a gente vai viver, é ou não é? A gente não está ganhando um ano nem nada disso. A gente está é vendo a vida da gente escorrer pelo meio dos dedos e não consegue segurar.

Aniversário não é coisa para se comemorar. Muito pelo contrário. Aniversário deveria ser um dia pra gente esquecer. No dia do nosso aniversário, a gente passa o dia inteiro ouvindo as pessoas falarem "E aí, quantos anos você está fazendo?". Agora, isso não é a mesma coisa que falar "E aí, quantos anos restam pra você?". Pois eu acho que é a mesmíssima coisa. Inclusive, você já reparou que os dois únicos eventos sociais nos quais é praticamente obrigatória a presença de velas acesas são os velórios e as festas de aniversário? Bem, eu acho que isso não deve ser coincidência. Aniversário é uma coisa deprimente e eu não...

- Olha, querido, se você não quer levar as crianças no Desfile Cívico, eu levo.

- Não é que eu não queira levar, mas esse negócio de aniversário, sei lá...

- Tudo bem, tudo bem. Mas depois você leva eles no parquinho da Exposição, tá bem?

- Tá.