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Crônicas
20/08/2005 - 12h12
O pesadelo deles ainda não começou
José Sergio Rocha
 

Desconfiado com ligeira tendência à paranóia, custei a acreditar no PT, o partido que, pela primeira vez na história deste país, tentou encarnar a política feita com higiene ao mesmo tempo em que procurou - e conseguiu - tornar-se uma legenda verdadeiramente popular e de esquerda.

O PT, para quem gosta de História, seria a concretização do sonho do partido de mãos limpas, ideal que o velho PSB nascido da Esquerda Democrática perseguiu do final dos anos 40 até o início dos 60, porém com o fervor revolucionário do velho Partido Comunista antes do racha de 1957 e - tcham, tcham, tcham, tcham! Este era o grande segredo! - a estrutura e a capilaridade de um partido de massas, mais caudaloso do que o velho PTB e sem um papai Getúlio Vargas pensando sozinho pela multidão.

Era bom demais para ser verdade!

O PT é o partido que bate o recorde mundial de fundadores (ou batia, em breve muitos vão renegá-lo e dizer que nunca assinaram ata de fundação nenhuma), uma vez que em cada cidade brasileira os pioneiros dos diretórios e núcleos de base assim se consideram, fora os malucos de sempre.

Eu só não fui porque fiquei sensibilizado pela volta de Leonel Brizola à atividade política. Em vez de me tornar um dos 985.478 fundadores do PT, participei da campanha do caudilho e, aqui nas plagas de Araribóia, do meu amigo Osvaldo Maneschy, candidato a vereador em Niterói. No entanto, nunca entrei no PDT, nunca fui brizolista, nunca me fotografaram com lenço vermelho no pescoço, pois não acredito em salvador da pátria.

Arrependi-me logo. Não por causa do Maneschy, que é um bom sujeito, nem do Brizola, que nem foi tão mal assim no primeiro governo, mas porque me sentia muito mais próximo daquele povo do PT. Ouvia falar em Partido dos Trabalhadores desde 1976, quando era ligado a um certo Movimento de Emancipação do Proletariado, um dos embriões do PT.

Mas estava difícil mudar de posição. Uma das razões era a escolha de candidatos nas eleições majoritárias que o PT fazia e que eu discordava. E me refiro basicamente às eleições estaduais. Preferi Leonel Brizola e, logo em seguida, mesmo sabendo que ia perder, preferi o grande Darcy Ribeiro, como meus candidatos ao governo do Rio de Janeiro. Outra razão era que, em Niterói, o PT não tinha nomes fortes para prefeito, só tinha projeto de oposição. Já o PDT tinha Jorge Roberto Silveira, o melhor prefeito que a cidade onde moro já teve. E ponto final, dane-se quem divergir!

Na corrida da vereança, primeiro fui com meu chapa Maneschy, que logo deixou de concorrer, e depois me encantei com um promotor chamado João Batista Petersen, de quem mais tarde também me aproximei fraternalmente. E foi aí que comecei a misturar partidos, o que em alguns casos pode ser pior do que misturar bebidas.

Petersen era do PT e, curiosamente, amigo do Maneschy. Jorge Roberto era do PDT. Os dois não se cruzavam e eu pouco ligava para isso. Danem-se os petistas e os pedetistas meus amigos que não entendiam a mistura. Quem bebia era eu.

Descobri que meu voto era inteligente, pois escolhia para prefeito aquele que eu considerava mais bem talhado para tirar a cidade da confusão administrativa em que se encontrava, e para vereador aquele que eu sabia ser o mais indicado para fazer oposição honesta e aguerrida. Um voto dialético, sorry, periferia!, que era dado também pelo colega jornalista e meu amigo Marcelo Maiolino, que hoje, coitado, mora em Brasília.

O primeiro governo Brizola, iniciado em 1982, não foi exatamente o governo que pedi a São Carlito Rocha e a São Paulo Benjamin de Oliveira - por mais que me esforce, o máximo que meu lado místico consegue é imaginar um altarzinho virtual com as bandeiras da minha querida Portela e do meu glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, um pôster de Mané Garrincha e a Velha Guarda cantando em volta do gongá.

Em 1986, com a possibilidade de eleger o maluco beleza Darcy Ribeiro para governador, eu teria que adiar mais um pouco o inevitável romance que algum dia iniciaria com aquela outra estrela solitária, só que encravada numa bandeira vermelha, não alvinegra.
Aí veio a porcaria do Moreira, aí terminou o arremedo de democracia que tivemos com o esgotamento da ditadura militar. A transição nos seus finalmentes.

O grande ano chegou. Pois foi em 1989, naquele glorioso 1989 em que todos puderam votar novamente para presidente da República, que oPTei! E desde o primeiro turno, embora alguns amigos e minha então namorada duvidassem e achassem que eu votaria no Brizola para presidente. Não, eu já havia assumido a nova paixão.

De 1989 para cá foram cinco votos para presidente no PT, incluindo dois segundos turnos.

Na quinta-feira à noite, eu estava trabalhando direto num evento e não vi o depoimento do Duda Mendonça pela TV nem o choro coletivo dos verdadeiros petistas que ainda restam no partido dos meus sonhos, além dos milhares de militantes e simpatizantes que o PT ainda não perdeu. Fiquei sabendo, é claro, mas não assisti, porém o que os olhos não viram, meu coração sentiu.

Conta do PT em paraíso fiscal foi dose! Não me importo mais se houve ou não um complô bem urdido da direita, do banqueiro Daniel Dantas, dos tucanos ou dos pefelês para demolir a imagem do PT para que todos os partidos se igualassem aos olhos do povão.

O que Lula, Zé Dirceu, Gushiken, Zé Genoíno e outros fizeram, ou deixaram fazer, não atingiu apenas o PT e a esquerda. Objetivamente, o resultado da lambança é que o povão acreditará menos ainda na política, a menos que desse pandemônio virado ao avesso, dessa cloaca galáctica, desse esgoto de almas vendidas, nasçam improváveis reformas estruturais na política e nas leis que temos.

O mais provável é que, ao invés de reformas necessárias, desse pântano purulento surja o ovo de uma cobra criada qualquer, um messias de araque com o dom de iludir as massas. Um rebento dos demônios que talvez apareça convenientemente travestido de ovelha neopentecostal e ocupará o lugar do operário que empolgou o Brasil e permitiu que a Telemar desse preferência aos negócios de seu garoto classe média.

Não preciso que nenhum senador do Amazonas que nunca vi denunciando o desmatamento da região me diga o que fazer agora. Nem ouvir conselhos de herdeiros de oligarquias. Nem embarcar em canoas furadas de esquerdistas histéricos que sempre jogaram contra o partido quando nele estavam e hoje festejam a derrocada do PT ao lado daqueles que chamam de inimigos de classe.

No dia que a cambada de escroques for expulsa, todos os que sonhamos demais iremos pelo menos dormir em paz. O sonho não acabou. Para mim, ele só acabará quando começar o pesadelo dos ladrões de sonhos.


Nota do Editor: José Sergio Rocha é jornalista.

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