Nesses tempos de pandemia poder-se-ia, com toda a propriedade, utilizar um conhecido adágio popular, supostamente originado na Idade Média, mas que se mostra mais atual do que nunca. Com a chegada dos lotes do imunizante contra a COVID-19, alguns brasileiros deixaram de lado a ética e o acatamento às recomendações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que elencou os grupos prioritários, simplesmente furando a fila. São os amigos do rei, os familiares, apaniguados, funcionários públicos mais chegados dos governantes, que sem escrúpulos algum, foram contemplados com o imunizante. Houve um caso em que o prefeito do município foi vacinado, postou a imagem nas redes sociais e quando questionado, justificou a atitude como “um incentivo à população”.

A questão da afronta às regras estabelecidas pelas autoridades de saúde é atitude recorrente no cotidiano do cidadão brasileiro, desde o início da pandemia. A mídia divulgou casos em que pessoas de absolutamente todas as classes sociais se envolveram em confusões de todo tipo. Desentendimentos e agressões foram imagens comuns nos noticiários. Da “voadora” do cliente do restaurante por conta do engasgo involuntário; dos disparos com arma de fogo do segurança do shopping contra o teimoso sem máscara, que infelizmente tirou a vida de uma pessoa inocente, ao escárnio inaceitável do desembargador que resolveu humilhar o agente de segurança pública, por simplesmente cumprir com sua função em alertar os infratores dos dispositivos contidos no decreto governamental. Essa é a síntese da conduta de determinadas pessoas que, não obstante os dispositivos legais editados com o intuito de conter os avanços da doença (comprovadamente de alta letalidade), se colocam deliberadamente na contramão dos interesses maiores da coletividade.

Nesse País de gente trabalhadora e honesta, mas de onde se sobressaem tantas contradições, ainda existem aqueles adeptos à conhecida lei de Gérson, os que procuram levar vantagem em tudo. Não obstante a imensa maioria da população realmente se empenhar em colaborar com as medidas sanitárias amplamente divulgadas, os amigos do rei estão por aí expondo sem pudores, os troféus em forma de publicações em redes sociais. Estivesse a saudosa e irreverente apresentadora Hebe Camargo entre nós ainda, certamente resumiria essa triste situação com uma simples palavra: “Gracinhas”.

Nota do Editor: José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva, PR.