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Opinião
20/08/2005 - 14h06
Lula de Mello X Collor da Silva
Ipojuca Pontes - MSM
 
"O que separa Lula de Collor é a distância que separa um Land Rover de um Fiat Elba" - avaliação de um taxista

Em entrevista publicada numa revista de São Paulo, no mês passado, o ex-presidente Collor de Mello disse que o que está acontecendo com o governo de Lula da Silva é o mesmo que ocorreu no seu governo. Indagado pelo repórter da publicação se Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT no governo Lula (ou do governo Lula no PT) desempenhava o papel de PC Farias há cerca 13 anos atrás, Collor foi adiante: "O que está acontecendo é uma repetição, uma reedição do filme, mas com cores mais trágicas". E, mais contundente, avaliou: "A performance dele e a desenvoltura com a qual ele trafega pelo Planalto e pelo Congresso é algo que só Sérgio Motta (do governo FHC) teve. Se é verdade o que dizem, o Delúbio faz coisas que nem o PC sonhava".

Como se sabe, o presidente Collor de Mello, eleito em 1989 com mais de 35 milhões de votos, foi deposto em 30 setembro de 1992, por força de impeachment aprovado pela Câmara dos Deputados, dois anos e sete meses depois da posse. Seu algoz, por força de denúncia do irmão Pedro Collor, foi o tesoureiro da campanha presidencial Paulo Cesar Farias, o PC ("Lepra Ambulante", apud Pedro), acusado de articular esquema de corrupção de tráfico de influência e cobrança de propina dentro do governo. Durante as investigações, de três meses, a CPI descobriu que um dos expedientes utilizados por PC era o de abrir contas "fantasmas" para realizar transferências do dinheiro arrecadado com o pagamento de propina. Uma delas, em nome de "Maria Gomes", operada por Ana Accioly, secretária de Collor e responsável pelo pagamento de contas privadas do presidente. No final das investigações, embora o esquema de PC justificasse o dinheiro como originário de "sobras de campanha" ("Operação Uruguai"), entrou em cena Francisco Eriberto, motorista de Collor, confirmando a compra de um Fiat Elba, a serviço na Casa da Dinda (residência de Collor), como "produto" das falcatruas armadas por PC Farias.

Collor de Mello ainda tentou reagir e tal como Lula da Silva, hoje, apelou à época para a solidariedade de dois mil integrantes do Sindicato de Taxistas de Brasília, depois de conceder à classe subsídios e isenções fiscais, em ato público. O resultado foi adverso: em vez de apoio, enfrentou a ira dos "caras-pintadas", ideologicamente industrializados, entre outros, pela sanha contestatória do Partido dos Trabalhadores. Collor, ainda uma vez, avaliara mal seus arquiinimigos, sequiosos de poder desde a "intentona vermelha" de 1935. Tempos depois, revisto o processo em outra esfera, Collor foi inocentado pela Justiça, que não encontrou provas suficientes para condená-lo. Mas politicamente o ex-presidente já estava destroçado, sofrendo (até recentemente) o castigo de sucessivas derrotas eleitorais.

De fato, embora tenha sido o presidente que levou o Brasil à modernidade - fechando dezenas de estatais, privatizando empresas que de públicas só tinham o nome, partindo para desregulamentação do excesso de barreiras comerciais que fechavam o País para importações e impediam a ampliação das exportações - Collor de Mello nunca entendeu em essência o significado e o valor do pensamento (e prática) liberal em política e economia, podendo ser considerado, até certo ponto, mais um cultor da "presença" do Estado como instrumento de desenvolvimento - erro ardiloso de todos os políticos profissionais em vigência na trágica América Latina, o que, no caso particular do seu mandato, pode ser avaliado pela atuação "unicampiana" de Zélia Cardoso de Mello no Ministério da Fazenda.

Na contraditória entrevista, Collor de Mello pronuncia-se contra o impeachment de Lula: "Ele foi eleito por mais de 50 milhões de eleitores e este Congresso não é exatamente um reduto de anjos". O ex-presidente, que julga a situação crítica atual de forma auto-referente, parece não entender o claro "bit" ideológico da questão (antes, em entrevista defasada, consagrara Zé Dirceu, espião de Castro, como um "executivo enérgico") e aconselha ao encalacrado presidente a não "abdicar dos velhos companheiros" (leia-se Dirceu, Gushiken, Genoino et caterva), pois acabaria sendo, como ele próprio, Collor, caso implantasse um ministério de notáveis, "apunhalado pelas costas". Conselho pior, impossível.

Mas há uma diferença fundamental entre os "casos" Lula da Silva e Collor de Mello, para além do que separa o Land Rover da Fiat Elba e do que mede a soma incalculável sacada por Delúbio Soares das falcatruas de PC Farias (que fazem deste um mero pivete): as raízes ideológicas da questão. Ao contrário de Collor, de quem se afirma ter enfiado a grana do tesoureiro alagoano nas cascatas faraônicas da Casa da Dinda, o atual presidente, fantoche das esquerdas latino-americanas, corrompeu de forma deliberada o aparelho do Estado com vistas à derrocada da democracia e a implantação do socialismo totalitário tramado nos desvãos do Foro de São Paulo. Na dura realidade da deposição, Collor estava só, sem nenhum partido "hegemônico" às suas costas, sem a guarda ativista dos "movimentos sociais" e a conivência milionária das ONGs, para não falar no empenhado exército da mídia militante a blindar tenazmente a figura "simbólica" que, mesmo a transpirar pus por todos os poros, continua ameaçadora no cargo de presidente da República.

Tivesse Collor ao redor semelhante cartel, sempre ativo, ainda hoje estaria governando o País (como, de resto, faz o cadáver ambulante de Fidel Castro em Cuba, a ilha-cárcere).


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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