Atualmente, estamos utilizando o termo holístico na administração para representar o todo indivisível de uma organização. O termo holístico é relativo ao holismo, que segundo o dicionário do Aurélio significa a teoria na qual o homem é um todo indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), ou considerados separadamente.

A utilização do significado desse termo tem sido expressivo, a ponto de muitas empresas americanas integrarem em sua razão social a palavra "corporation", que deriva da palavra em latim "corpore", cujo significado remete ao todo indivisível. Assim, utilizando o termo, posiciona-se a empresa dentro do universo holístico.

Se fizermos uma analogia com a medicina, vamos encontrar médicos holistas partidários do holismo, que em última análise estudam o ser humano como um todo indivisível. Essa prática não é muito comum na medicina pelo fato de termos nas carreiras médicas especializações, tais como nefrologia, urologia, oftalmologia, entre outras, que estudam as partes do organismo humano. Essas especializações têm levado ao estudo individual das doenças, não a avaliando o todo indivisível.

No campo da administração, o mesmo tem acontecido. A própria formação acadêmica dos gestores das empresas conduz a especializações, tais como marketing, vendas, manufatura, contabilidade etc. Diante dessas especializações, fica difícil pensar em uma empresa holística. Os engenheiros têm que estudar administração e entender de orçamento, assim como os gestores de vendas tem que entender de produção, entre outras. Essas especializações têm levado as empresas a conceberem um modelo organizacional voltado às funções que privilegia áreas de conhecimento restritas, e que dificultam sobremaneira a operação holística.

Muito se tem falado sobre processos de negócio como forma de quebrar os paradigmas funcionais. Entretanto, processos de negócio envolvem pessoas e tecnologia, que precisam interagir de maneira holística para que essa mudança cultural possa ser efetiva. Acreditamos que a maioria das empresas tenha experimentado fracassadas mudanças do modelo organizacional tradicional para o modelo orientado a processos. Mas onde está a origem do fracasso quando se muda culturas arraigadas nas empresas?

Certamente, houve o negligenciamento das peças fundamentais da organização, ou seja, as pessoas não estavam preparadas para as mudanças. Para se ter sucesso num empreendimento organizacional dessa magnitude, é preciso mudar a cabeça das pessoas, que nem sempre vão se adaptar à nova realidade da empresa. Um expressivo trabalho de gerenciamento de mudança deve ser adotado pelos patrocinadores da mudança, para que o novo cenário possa ter sucesso.

O fator crítico de sucesso do negócio quando se muda a cultura depende fundamentalmente das pessoas, e não podemos subestimá-las achando que com um passe de mágica tudo se transforma. Portanto, mudanças radicais nas empresas devem ser bem geridas para que o todo indivisível seja contemplado e que o verdadeiro holismo seja aplicado, mas não perdendo de vista que as pessoas estão contidas nesse sistema social chamado empresa.

Nota do Editor: Acácio Feliciano Neto é mestre em Computação Aplicada, doutor em Engenharia de Produção e gerente da consultoria da BearingPoint do Brasil.