Recentemente sofri uma dor pungente. Dor que somente sentira quando da partida de meu pai, minha mãe e um irmão mais novo que eu (partiu aos 55 anos). Essa nova dor pungente foi devido a partida de outro irmão, o mais velho. Não, não foi vítima da pandemia, mas problema depois de uma cirurgia no intestino e uma infecção hospitalar (passou 31 dias na UTI).

Esse irmão foi grande professor e um dos melhores oradores do nosso estado, foi prefeito de Arcoverde. Quem conhece nossa região sabe quem foi Giovanni Pôrto, o prefeito, único, que proibiu e acabou por quatro anos com o roubo e a corrupção. Quem duvidar é só pesquisar, inclusive junto a quem não gostava dele. Era muito culto e escreveu dois livros. Era formado em Direito, foi orador da sua turma. No seu discurso ele citou uma frase de Malraux: "Há mais dores no mundo que estrelas na terra". Foi dessa frase que me lembrei quando soube de sua partida para outro plano superior de vida. Vou explicar por que me lembrei da frase. É que não pude visitá-lo no hospital e nem ir ao seu enterro. A asma crônica e outros problemas como pressão e ser pessoa de risco fez com que toda minha família impedisse minha ida, compreendi mas doeu muito. Uma dor pungente. Que situação triste: não poder visitar um irmão doente e nem ir ao seu enterro.

Ele era conhecido como Professor. Só chamavam-no Professor. Para compensar a não ida ao seu sepultamento, o filho dele colocou uma espécie de tela, esse treco da internet, para as pessoas colocarem mensagens. Uma filha minha pediu que eu escrevesse num papel uma mensagem para ela colocar em meu nome. Mandei que botasse apenas esta frase: "Professor, dê um abraço no Major Wilson, nosso pai e no nosso irmão, Isinho. Wlliam Pôrto". Para mim o Professor hoje é uma lenda. Para mim e para muita gente. E a saudade, como dizia Caymmi, é dor pungente. Que saudade do Professor. Inté.