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Crônicas
19/07/2021 - 06h21
Saudades no meio do caminho
Rosa Alves
 

A escola situava-se no campo, cercada por verdes pastagens contrastando com o amarelo desbotado de sua pintura. Carteiras de madeiras escuras, pés de ferros torneados, pesados se equiparados à leveza dos sonhos infantis que ali inquietamente, se acomodavam em parcerias para os afazeres escolares.

Três séries em uma só turma, malabarismo ao discorrer as lições no quadro negro, ficava ali no centro do picadeiro pensando quão tortuosos eram os caminhos daquelas crianças, até ali chegarem, aninharem-se em busca de seus sonhos cristalinos. Pés empoeirados, cabelos alvoroçados, nos lábios um vasto sorriso e a cumplicidade estampada nos olhos no que se referiam às traquinagens infantis, molecagens, carruagens dos contos de fadas, à espera de quem sabe um dia, a tão esperada sorte! As gêmeas Rosângela e Rosana, como eram espoletas! Radiantes, sorrisos de porcelana e destreza de um pião no brincar e no aprender.

A mim caberia percorrer quatro quilômetros até chegar ao Sítio do Pica-Pau que abrigava esse pequeno e singelo templo do Saber, bem querer! Hoje, quando me lembro dos pedregulhos encontrados pelo caminho, sorrio com muito orgulho! A estradinha empoeirada era ornamentada por estrondosas árvores, pastagens salpicadas de orvalhos, abrindo caminhos para o gado sossegado, o trotar elegante dos cavalos, desfile de formigas empreendedoras, solidárias. Ausente o canto da bela cigarra, que seria uma farra, embora houvesse sinfonia dos pássaros silvestres, entoada pelo balançar harmonioso do vento. Apareciam pelo caminho também tatus com seus cascos densos, sólidos. Certa vez até um porco espinho cruzou o dito caminho, sozinho, caladinho! A chegada à escola era triunfante, quão prazerosa era a recepção daquelas crianças encantadas pelas proezas de saci, páginas de gibis, colibris!

Saudades contidas e agora declaradas ficaram da hospedagem carinhosa, afável de um tio muito estimado, amado, que partiu aceleradamente por um desses sofridos, dolorosos arrastões, atualmente temas e dilemas do “Novembro Azul”, que se não levados a sério, escorrem-nos pela face as lágrimas da despedida!

De sua casa que me acolheu nesse tempo com tamanho aconchego ficaram as lembranças dos largos assoalhos de madeira, vastas portas e janelas, cadeira de balanço entrelaçada por palhinha, um mimo da antiguidade embalando todas as idades, quantas saudades! Bica d’água cristalina, verduras de um colorido magistral nos canteiros adubados e sagrados que sustentavam corpo e alma. Os casos por Tio Zezé contados, tão por mim admirados, espirituoso que ele só, entre uma risada e uma pausa para acender o cigarro de palha, desatavam-se todos os nós, que diriam os quiprocós!

Milho na brasa, queijo derretendo na palha, pisca-pisca de vaga-lumes reverenciando a chegada da noite e a lua majestosa naquele cenário que a mim muito me encantava, devido à admiração que tenho pela musa de todos aqueles que carregam dentro de si um verso de poesia. Ternas lembranças que se transportadas seriam a mais singela das telas, pois quando se despede de um ente querido, crava-se na memória a página mais modesta da história, guardada e resguardada em oratórios santificados. Lágrimas deslizando pela face à procura de um feixe de lenha, aquece, rejuvenesce, tal qual uma prece.

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