29/04/2024  11h56
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
06/08/2021 - 06h33
O que não teria de acontecer
Damião Ramos Cavalcanti
 

Há coisas que parecem acontecer, inesperadamente, por si sozinhas; como também decidissem sozinhas acontecer, fazendo de conta que nós não existíssemos, como elas fossem surpreendentemente causa e efeito do fenômeno, deixando-nos confusos, sem sabermos de onde viriam tais coisas. Mesmo surgindo bem perto de nós, na nossa cara, naqueles momentos ou naquelas horas, quando menos se espera. Realçam quando negativamente nos atingem, e geralmente, no mínimo, nos afetam. Tornamo-nos, então, partes dos seus efeitos. Assim, também sujeitos a opinar sobre elas, sem querer, valorizando-as, dando-lhes importância, mesmo que elas não representem alguma necessidade ou valor para isso.

Não são corriqueiras, acontecem fora da normalidade, configurando o requinte de surpresa. Haveria nisso alguma fenomenalidade? No caminho dos nossos estudos, aprendemos, basicamente, que o fenômeno é aquilo que, “de aparência sensível”, opõe-se à realidade, da qual se origina e é manifestação. Contudo, sempre com característica paradoxal, insólita, com a qualidade de ser diferente. Vulgarmente, o termo tem se aplicado até a jogador de futebol, que não estranhem o emprego simplório da palavra, os teóricos da fenomenologia, como Kant, Spencer, Heidegger, Hobbes, Husserl e até Hegel, que tentaram definir o que seja um fenômeno ou o que merece ser adjetivado como fenomenal.

Há coisinhas intrigantes, como o parafuso, que das nossas mãos, rola metros e metros, e esconde-se num único buraco da calçada, por onde mal ele pode passar. Foi quando, depois de procurar por muito tempo, o ciclista me disse: “Se eu quisesse acertar, com esse parafuso, aquele buraco, jamais acertaria...” Há eventos mais complexos, sobre os quais fica difícil explicar o porquê do acontecimento. E quando a explicação fica difícil, geralmente se dá a mais fácil possível, até chegar ao nível da bobagem, da asneira ou da tolice. Geralmente essas coisinhas são sem vida, mas parecendo “se moventes”; não têm desejo, mas parecem agir contra nossa vontade, como a boa cortiça se romper, exatamente na hora de se abrir o bom vinho da festa.

A partir da queda de um avião até a da supracitada do parafuso, destaco, na excelente obra de Itamar Vieira Junior, Torto Arado, o caso da língua decepada por uma faca, que vivia prudentemente escondida pela avó. Como explicar a língua acidentalmente cortada? O porquê é, no romance, por conta do direcionamento do enredo, mas isso acontece dentro e fora das obras de ficção. O avião caiu e a família do único passageiro que morreu insistiu que ele não viajasse, como se tentasse evitar o que não teria de acontecer. Tal assunto se espalha como algo altamente curioso, inclusive alimentando a sugestão: Quando uma voz, dentro de você, disser que não vá, não vá. Retruca-se, tirando-se do bolso, o conceito de destino, que é amplamente de conhecimento erudito e popular: “Quando tem de acontecer, acontece”. Isso também só é dito depois que acontece... Melhor acreditar que as coisas, que existem, geralmente, acontecem, mesmo do modo ou das maneiras mais estranhas. José Américo de Almeida ameniza a interferência do destino, dando-lhe probabilidade ou não, já que a dita força é relativa às circunstâncias: “O que tem de acontecer tem muita força”. A lógica da probabilidade é o que nos salva das radicais certezas...

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.