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Crônicas
24/08/2021 - 05h21
Mãos valiosas
Rosa Alves
 

Da necessidade de produzir itens de uso do dia a dia, para sua subsistência, surgiu no período da pré-história o artesanato. Época em que o homem aprendeu a polir a pedra, fabricar cerâmica, tecer fibras animais e vegetais. Os integrantes das famílias costuravam, cortavam, poliam e produziam juntos as peças. A partir da Revolução Industrial, que iniciou-se na Inglaterra em séculos passados, houve uma desvalorização do artesanato. Os artesãos competiam com um mercado de produção industrial, certamente muito mais rápido do que o tempo que levavam na produção de suas peças.

Em terras tupiniquins não poderia ser diferente. Jequitinhonha, palavra de origem indígena que significa "rio largo e cheio de peixes", situado no norte de Minas Gerais, foi ocupado pelos europeus no início do século XVIII, que aqui chegando, exploraram ouro e diamantes encontrados nos leitos dos rios e seus afluentes. No início do século XIX, a Coroa Portuguesa resolveu fazer novas investidas, promovendo a ocupação do Vale, iniciando o combate às tribos indígenas em busca de terras propícias às pastagens.

O Vale do Jequtinhonha passou por inúmeras turbulências sociais, embora tais mazelas não ofuscaram a sabedoria e criatividade desse povo que produz um artesanato reconhecido no Brasil e mundo afora.

Houve uma época em que as comunidades do Vale foram tomadas pelo cultivo de eucaliptos, tornando-se a maior atividade econômica da região. Além da tomada das terras e do desemprego, essa atividade impactou a vida das pessoas, pois como se sabe, pés de eucaliptos demandam grande quantidade de água, esgotando sua disponibilidade para a população tão carente desse cenário hídrico.

Em épocas passadas, as mulheres aprendiam a moldar o barro com as índias que viviam na região. Esse aprendizado concretizou-se na metade do século XX, quando os homens partiam para São Paulo, em busca de emprego, deixando no Vale, as mulheres e seus filhos. Dominando todas as etapas, desde a extração do barro até a construção de fornos para a queima, as mulheres produziam peças utilitárias do dia a dia às peças que traduziam cenas do cotidiano, sentimentos e crenças que se materializavam nessas obras de arte.

Fico a imaginar quão rico é esse trabalho, quanta sensibilidade, sabedoria em cada peça produzida, nos traços de cada rosto, o aconchego da mãe com a criança no colo, a menina com seu vestido de poá, a moça romântica com seu vestido de noiva, um arranjo singelo e belo nas mãos, o rapaz com seu terno e gravata, elegante, gentil...

Em terras distantes do Brasil, deparei-me ao entrar numa loja com uma boneca do Vale do Jequitinhonha, ornamentando um espaço minúsculo. Senti-me em casa, só faltou o cafezinho, olhei para seu rosto, sorri e senti um orgulho desse povo valioso que por muitos anos, fazia parte de uma de suas estatísticas, um dos piores IDH (Índide de Desenvolvimento Humano) do país. Fiquei pensando, quão desenvolvidos são nos aspectos humanos, relacionados aos significados mais amplos desses vocábulos. Naquele universo, só eu ouvia as belas canções de Paulinho Pedra Azul, Rubinho do Vale, a brasilidade de Saulo Laranjeira e de tantos outros artistas desse Vale valiosíssimo.

Nunca fui ao Vale do Jequitinhonha, atrevi-me a escrever sobre ele pelo pouco conhecimento que tenho, através de leituras, de documentário televisivo e também devido à admiração que tenho pelas artes dessa gente tão sábia, carregando em suas mãos de fada uma varinha de condão, tão mágica como o luar daquele sertão...

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