As mais novas pesquisas de opinião que estão aferindo o humor dos brasileiros em relação ao governo que está aí devem apontar para uma situação mais ou menos conhecida.

Enquanto o número de insatisfeitos com Lula da Silva cresce nas camadas esclarecidas e com certo poder de consumo, o apoio a ele mantém-se inalterado nas lâminas mais carentes, as chamadas classes C, D e E.

Daí a pertinência, para o Planalto, dos aconselhamentos de Hugo Chávez, o tutor-pai venezuelano, que, em recente jantar com Lula sobre o qual nem o Itamaraty havia sido avisado (ambos dispensam cerimoniais quando precisam estar juntos), disse-lhe para buscar as massas, justamente a fim de compensar nos pobres o que está perdendo entre os ricos e a classe média brasileira. Chávez é um craque na manipulação do povo e tem muito (de ruim) a ensinar a Lula.

O fato é que as conversas do presidente da Era Mensalão com os pobres só tendem a aumentar e serão corriqueiras de agora em diante. Na semana passada ele foi ao Piauí. Horas atrás, esteve em Vitória da Conquista (BA). Amanhã pode estar em Juazeiro do Norte ou qualquer outra pequena cidade do Nordeste. O importante é estar entre os iletrados e os incultos, pessoas que dificilmente estão assimilando os fatos e a gravidade das denúncias no ar. Estas pessoas, em 2006, podem ajudar Lula a obter o segundo mandato. Mas não apenas elas.

Além desta guinada rumo à pobreza cujo objetivo é claramente o de rachar o país entre os pró-Lula e os anti-Lula, o atual chefe da Nação conta com o apoio da maioria dos jornalistas e formadores de opinião do país. Obviamente há exceções mas, no geral, uma corrente de profissionais da imprensa torce para que tudo dê certo, para ele.

Um exemplo disso aconteceu na primeira quinzena de agosto, tão logo a palavra "impeachment", agora considerada maldita, começou a circular em Brasília. Foram colunas e artigos escritos para condenar a abertura de um processo contra Lula no Congresso. Se em 1992 o impedimento nada impedia de mais grave a não ser o impedido Collor de Mello, agora ele pode "convulsionar" o país, nas palavras do pauteiro José Dirceu.

Protegido por esta fita isolante midiática, nesta semana, inclusive, Lula da Silva foi convocado a "abençoar" a estréia do jornal de Ana Paula Padrão no SBT. A ex-global é a mais nova aposta de Silvio Santos e a intenção era a de obter uma entrevista exclusiva com o presidente. Assim deve ter dito Silvio: "não é possível? então peça a ele que abençoe nosso novo telejornal". E foi isso o que aconteceu. Imagine o leitor o tamanho minúsculo da liberdade editorial com a qual Ana Paula Padrão irá lidar no SBT. O que ela poderá reportar de grave contra Lula, o divino padrinho de seu trabalho de agora em diante? Chávez, em seu novo papel de Duda Mendonça, não imaginou tantas facilidades para agir ao sul do país que comanda.

Nota do Editor: Sandro Guidalli, 38 anos, nasceu em Lages, principal município da serra catarinense a 200 quilômetros de Florianópolis. É jornalista desde 1989, tendo prestado serviços para inúmeros jornais e publicações do país, entre eles a Folha de S. Paulo e O Globo. Foi editor do Mídia Sem Máscara entre fevereiro e julho de 2003. Depois de residir por dez anos no Rio de Janeiro, mora em Balneário Camboriú (SC).