Tive um amigo, já falecido, que possuía alguns conhecimentos da emblemática Banca Suíça e dos depósitos lá existentes. Em visita a Ubatuba, em 1975, comentava que, o país com maior número de depósitos em contas numeradas, já naquela época, era o Brasil. Suíça era, nos idos de l975, o único paraíso fiscal com prestígio. Hoje são dezenas. Com o dinheiro depositado em bancos suíços daria para pagar as dívidas interna e externa e sobraria troco afirmou. Socialista ético não poupou os adjetivos mais chulos da língua de Cervantes sobre esses depositantes. Os mais amenos eram traidores da pátria, aleivosos, fraudulentos, pérfidos e ladrões de cidadania e esperança. Para ele não existia atenuante para essa aleivosia com o país, sua economia e sua gente. Todos, absolutamente todos, que depositavam dinheiro em paraísos fiscais eram igualmente corruptos, vermes e sanguessugas dos recursos do país, quaisquer que fosse sua profissão e prestígio político, econômico e social. Nestes trinta anos afloraram, na superfície da vida nacional, algumas pontas desse imenso iceberg, por ele comentado. - Ex-Presidente da República manda bilhetinho, para a filha, recomendando não esquecer o número da conta XXX, em banco da Suíça, para não acontecer como com os milhares de contas dos judeus que morreram na Segunda Guerra Mundial. - Político, de todos conhecido, é surpreendido transferindo centenas de milhões de dólares de um paraíso fiscal para outro. - Bispo de igreja evangélica tem empresas e contas em paraíso fiscal. - Emissora de TV é comprada com dinheiro vivo, supostamente, transportado em jatinho desde um paraíso fiscal. - CPI do Banestado apurou que mais de trinta bilhões de reais foram mandados para paraísos fiscais ilegalmente. Os responsáveis, supostamente, foram conhecidos. Ninguém foi punido. - Escândalos do Banco Nacional, Econômico, Banespa, Marka-Cidam, Banestado, outros bancos estaduais e particulares menores, sempre com indícios de dinheiro fraudado e depositado em paraísos fiscais etc. etc. e ninguém responsabilizado. Mas nunca, como neste momento, as pontas do iceberg estiveram tão à mostra, se derretendo e derretendo o nosso BRASIL. As CPMIs apuraram Valerodutos, mensalões, compra de votos, pagamento de campanhas em paraísos fiscais, presidentes, tesoureiros, secretários de partidos políticos e acólitos desses políticos sacando milhões de reais de contas bancárias, em dinheiro vivo, e transportando-as em malas, deputado federal transportando, em jatinho com autonomia de voar, sem escala, até quaisquer paraíso fiscal, mais de dez milhões de reais, fazenda comprada por setecentos mil reais, em dinheiro vivo, por pessoa que em toda sua vida não teve recursos declarados para juntar esse dinheiro, mansões na praia, carros de luxo, empresas criadas para mandar dinheiro para o exterior etc. etc... Nada disso é considerado prova para punir os beneficiários de toda essa orgia, esse tráfico de divisas, essa sonegação de impostos, esse empobrecimento moral, ético e econômico do país, esse insulto aos cidadãos que, com sacrifício, pagamos todos os impostos e obrigações sociais em dia. Não parece interessar o conhecimento das pessoas para as quais trabalhava o doleiro preso. Ele não é apenas um agente comercial bandido? A pessoa ou pessoas que o contrataram e lhe entregaram o dinheiro não são também bandidos? Porque os donos dos dólares traficados estão soltos? Impressionou-me ver, o Exmo Sr Presidente da República, defender o Ministro da Justiça e achar normal ter contas, em paraísos fiscais, e sonegar impostos, no Brasil. Pergunto aos meus botões, qual será o conceito de AMOR Á PÁTRIA desses nossos representantes? A inteligência não suporta tanta hipocrisia. Chorar faz mal à saúde. Rir deve ser a solução. Nota do Editor: Corsino Aliste Mezquita, ex-secretário de Educação de Ubatuba.
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