Zulmira se assustou: o menino que normalmente era só graça e vivacidade, encantando a todo mundo das redondezas, agora estava ali no berço, irritadiço, sanhoso, só chorando. Chamou o marido no curral: - O menino tá doente, Tavo! - O homem depôs o balde no jiráu e acorreu: - Doente, como, mulher? Se ainda onte de noite, no colo de Dona Iaiá, o bichinho tava uma espoleta! Tavo saiu correndo, atravessou o corguinho, foi chamar Sá Luzia. Em dois tempos, voltou com a benzedeira. A velha chegou silenciosa, com seu pano muito limpo na cabeça, os galhinhos de alecrim, o vidrinho de água benta e o rosário de conta-de-lágrima na mão - atrás da orelha um raminho de arruda fresca, rescendendo aos odores dos milagres da sua medicina de terreiro. Sá Luzia pegou o menino no berço. Estava molinho, as faces pálidas, alquebrado de forças pelo muito chorar. Com a confiança de quem benzia com os ensinamentos dos tempos que nossinhô andava pelo mundo, decretou sem susto nenhum: - É quebranto, Zulmira. Aflita, a mãe tomou o menino nos braços. Sá Luzia ia mexendo a boca murcha de dentes na contrição das rezas que ninguém escutava. Mão direita na cabecinha do menino, a outra traçando no ar o sinal da cruz, ela ia desfiando ladainhas, padre-nossos e ave-marias. O semblante do menino serenou, os olhinhos mortiços se renderam: num entrecorte de soluços, cada vez mais espaçados, o menino dormiu. Com a ponta do polegar direito, sobre a fronte do inocente, Sá Luzia desenhou uma cruz de água benta. Era a cura.
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