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Opinião
25/10/2021 - 06h09
Os escabriados
Montserrat Martins
 
Múltiplas culturas, deste país-continente, também estão “juntas e misturadas” na nossa cidade, ambiente de trabalho, amizades, laços familiares

Um jovem gaúcho que vá se aventurar nas praias do Nordeste, com uma mochila nas costas, tem chances de encontrar algum pescador que lhe alugue um quarto e acabe se tornando próximo como se fosse um amigo de infância. Poucos povos abrem suas casas para estranhos e travam amizade com tanta facilidade quanto o nordestino.

Viajando pelo Norte, eu esperava encontrar o mesmo tipo de pessoas, até porque a ocupação humana da Amazônia foi em grande parte por migração de nordestinos, incentivados pelo governo e atraídos pelo ciclo da borracha, no século passado. Mas a verdade é que são povos diferentes, no Pará ou no Amazonas as pessoas são mais reservadas, não se abrem tanto com estranhos, em geral.

“Escabreado” (se pronuncia escabriado) foi o termo que aprendi lá, para definir esse jeito de ser, que em gauchês seria algo tipo “ressabiado”, “sestroso”, ou seja, um tanto desconfiado, que fica mais reservado, lhe observando até lhe conhecer melhor. Uma das causas possíveis é que muitos foram enganados e até trabalho escravo sofreram, alguns desses imigrantes, no século XX.

A Psiquiatra e a Psicologia brasileiras ainda não exploraram esse assunto desafiador, as causas dessa diversidade, uma espécie de “tipologia” de características psicológicas regionais. Mas as Ciências Sociais já ensaiaram esse estudo, Darcy Ribeiro por exemplo identificou cinco grandes regiões culturais do país, que chamou de Brasil Crioulo (litorâneo, do Rio até o Maranhão), Cabloco (o do Norte), Sertanejo (dos sertões do Nordeste), Caipira (do interior do Sudeste e Centro-Oeste) e Sulino.

Cada região tem características próprias, tanto que alguns querem que o Sul seja o seu país, já houve alianças entre São Paulo e Minas (“café com leite”) e por aí vai.

Mas dentro de cada região há sub-regiões, como a rural e a urbano (do interior à região metropolitana). Além das diferenças entre os gêneros, é claro (entre mulher e do homem gaúchos por exemplo), e as culturas próprias de cada etnia, dos povos originários indígenas, ou afro-brasileiros, ou de imigrantes europeus, ou asiáticos.

Essas múltiplas culturas, deste país-continente, também estão “juntas e misturadas” na nossa cidade, ambiente de trabalho, amizades, laços familiares.

Vale a pena o esforço de compreender porque ficamos escabriados, ressabiados, diante de estranhos cujas diferenças desafiam nossa compreensão.


Nota do Editor: Montserrat Martins é psiquiatra. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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