Dos saudosos anos 80, surge um profeta. Não foi reconhecido em sua época - como todos os outros em qualquer tempo -, mas nessa onda retrô, seu nome deve voltar já já aos círculos de intelectuais e místicos, às listas de discussão e mesas de bar. Ele tinha um comportamento agitado por demais para um "homem da sabedoria", mas, cantando suas previsões, denunciava o ano de 2005, que está exatamente "entre 2001 e 2010". Salve, salve Juninho Bill, o peralta que queria ser presidente do Brasil! Na música "Fera Neném", o refrão que caiu no gosto popular era "Eu sou o fera, fera neném / Se eu for presidente você vai se dar bem". Nosso guru não falava de si mesmo. Nenhum profeta é pretensioso o bastante para propagar novos tempos que acontecerão somente se ele mesmo estiver à frente de tudo. O sábio integrante do grupo Trem da Alegria (sem trocadilho com a situação atual), na música de Vinícius Cantuária e Evandro Mesquita, falava da persistência do mito sebastianista entre os brasileiros. A previsão onírica era de que, na primeira década do século XXI, o país voltaria a apostar suas esperanças no grande salvador. "Se eu for presidente você vai se dar bem...". E a história se repete como farsa. A estrela que brilhava era cadente. Desenvolveu uma velocidade de queda tão grande, que fica difícil saber onde tudo começou. O que brilha hoje é a desilusão completa com a política, com os partidos e até mesmo com as instituições. E de novo canção-profecia volta a ter sentido: "Qual o futuro que a gente tem?", questionava o garoto prodígio. O que faremos em 2006? Em quem votar? "Por que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus", dizia Paulo aos Romanos (Rm 3,23). Só o PSOL se salva por enquanto. Juninho Bill já delatava os gostos do portador do discurso de redenção: "Quando sonho, viajo por mil lugares...". Meu Deus, estávamos todos surdos à voz que clamava no programa do Chacrinha, Gugu, Faustão e companhia limitada! Como não ouvimos o primeiro profeta que gozou de tanto espaço, de tantos auto-falantes, de tanta mídia? O trem chamado PT começava a percorrer os trilhos da política brasileira e mais tarde encontraria Marcos Valério em alguma estação de Minas Gerais, o querido estado deste articulista. E se a desilusão toma conta dos corações, se a desesperança e o medo passam a ser sentimentos recorrentes entre os brasileiros, a única fuga possível é o mundo dos sonhos, porque a realidade é dura, burra e insensível. O profeta Bill aconselhava: "Vou em frente, não dou bola pra bruxa / Acordo contente quando sonho com a Xuxa". O mundo da imaginação, aquele que o PT encenava a cada eleição, era perfeito e ético, bem diferente realidade que Delúbio Soares, Marcos Valério e Sílvio Pereira nos apresentaram. E como conselho final, Juninho Bill adverte: "Paguem logo a tal da dívida, senão vai sobrar pra gente". Não digam que ele não avisou. Abaixo, a canção-profecia: FERA NENÉM Vinicius Cantuária e Evandro Mesquita E - Salve, salve Juninho, como é que é, tudo bem? J - É... mais ou menos E - Ué, por que, irmãozinho, que cara é essa? J - Sabe o que é, Evandro, eu quero é ser presidente do Brasil E - Ei, diz aí então, me conta Hoje acordei e ouvi no rádio Alguém dizia que o mundo ia mal Que entre dois mil e um e dois mil e dez Já era a Terra numa guerra final Sou fera, fera neném Olha só o mundo que a gente tem Sou o fera, fera neném Se eu for presidente, você vai se dar bem Eu canto, danço, nado, brinco com tudo E até que não me dou mal no estudo Quando quero alguma coisa, eu berro Brinco de médico, ninguém é de ferro Sou fera, fera neném Qual o futuro que a gente tem? Sou fera, fera neném Se eu for presidente, você vai se dar bem Quando sonho, viajo por mil lugares O mundo é lindo pra quem sabe viver.... só na paz E corro feliz pra te ver Vou em frente, não dou bola pra bruxa Acordo contente quando sonho com a Xuxa Só quero dizer que eu, Sou o fera, fera neném Pára na minha, você vai se dar bem Sou o fera, fera neném Se eu for presidente você vai se dar bem Olha aí, vote em mim pra presidente E alô, alô, senhoras e senhores Paguem logo a tal da dívida, senão vai sobrar pra gente É isso aí, mais fantasia no seu destino Bote fé nesse menino, sou o futuro no presente Juninho Bill para presidente do Brasil Nota do Editor: Bruno Azevedo é jornalista.
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