Quando o ex-presidente Clinton deixou as marcas de seu entusiasmo varonil no vestidinho da Mônica, revelando ainda que seu charuto cubano fora compartilhado por outros lábios que não os seus e dentro das quatro paredes de acesso restrito do reino americano, o mundo não veio abaixo. Contra tudo e contra todos salvaram-se Clinton e o império, porque assim convinha. Mas primeiro precisavam da verdade e das desculpas sinceras, públicas e lacrimosas, assistidas na primeira fila pela esposa, pela filha e pelo dog, e na segunda pelo mundo todo. Antes, o Congresso do Tio Sam não havia poupado o poderoso Nixon levando-o à renúncia, antecâmara do "impeachment", porque ele sabia e não impedira a bisbilhotice ocorrida no interior do labirinto encefálico da democracia americana. Entretanto, salvou Clinton porque, humano, fiel à história não resistiu ao velho canto da sereia entoado no salão oval da Casa Branca. A força e a segurança dos valores daquela nação souberam separar a prioridade das leis do grupo sobre as particularidades do comportamento do indivíduo. E nós aqui? O caso do assalto ao nosso dinheiro guardado pelo governo nas estatais e fundos de pensão, perpetrado pelos dirigentes do país para comprar deputados, partidos políticos e o silêncio cúmplice não fere também as leis do grupo? A quem estão querendo "blindar"? Que raios de modelo econômico é esse que veio para mudar e hoje exibe uma carga tributária de 35% do PIB? Mal comparando é como se um médico famoso se vangloriasse de ter armazenado até o limite o seu banco de sangue, empilhando do lado de fora os corpos secos dos doadores. Se a política econômica estiver certa resistirá às mudanças pessoais. Se estiver errada, com maior razão sejam postos na rua e à disposição da Justiça. Vindo a solução do Congresso não há o que temer, ele existe justamente para decisões como essa. Nota do Editor: Renato Nunes é arquiteto e morador de Ubatuba, SP.
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