O povo brasileiro merece o Congresso que tem. Se deputados e senadores são a escumalha, a choldra que os elegeu é muito pior.
A cada nova legislatura, a ácida verrina da crônica política atribui desqualificações aos parlamentares. Não falta quem identifique um novo bicheiro, um obscuro iletrado, um estelionatário qualquer ou um espertalhão de alto jaez, dentro do Congresso eleito, para atestar a lenta desmoralização do Legislativo. Efetivamente, o parlamento piora a cada quatro anos. Entretanto, mais grave, é o povo, que se desqualifica a cada dia. O Congresso é o microcosmos da sociedade. Se lá dentro existem batedores de carteira, quadrilhas organizadas, facínoras de motoserra, radialistas bizarros, ilustres humanistas, folclóricos personagens, competentes estrategistas, brilhantes homens públicos ou larápios de subúrbio, aqui fora, na sociedade civil, na mesma proporção, habitam ladrões, quadrilheiros, traficantes, homens dignos, profissionais severos e cidadãos conseqüentes. O que se passa lá dentro, existe aqui fora. A casa dos deputados e senadores não é uma invenção da extravagância eleitoral. O Congresso reflete, exatamente, o nível da população que o elegeu. No Brasil, o que não presta é o brasileiro. E é inquietante, porque não desiste nunca. Essa Terra dos Papagaios, abençoada por Deus, no imaginário sincrético das crendices populares, já foi muito melhor. Houve época em que a elite, verdadeiramente, era a nata de um bom leite. A concentração de renda e a herança pestilenta da escravidão eram mais presentes e cruéis. Sem dúvida, o Brasil melhorou nas estatísticas sociológicas, mas apodreceu no dia-a-dia das ruas. A raiz dessa necrose social é a falta de educação do brasileiro. O povo piorou porque está muito mais ignorante. Ninguém duvida, que culpa disso tudo está nas costas da elite, que junto com a população, se desqualifica a cada dia. Uma elite burra e ambiciosa gera um povo estúpido e mal educado. Perdemos o salto qualitativo da História, quando há 25 anos, na redemocratização, não investimos na educação. Depois das patetices fardadas do período militar, tínhamos a obrigação de ter levado a sério a educação do povo. Não como peça de uma ação pedagógica, mas como elemento fundador de uma visão estratégica. O que falta ao povo é um bom ginásio. Há duas gerações, um jovem de 17 anos já havia lido os clássicos, dominava os códigos da gramática, se ilustrava com os exemplos da história e até se encantava com os devaneios da filosofia e a doçura da poética. Hoje, a juventude chega às universidades por decurso de prazo. O fim das reprovações e a promoção automática dos alunos criaram um exército de incapazes. Como se não bastasse, a religiosa esquerdice dos comissários do PT, inventou essa bobagem de cotas raciais nas universidades. Os bolsões excluídos da sociedade, agora, continuam excluídos, mas terão nível universitário. Ler jornal, que é bom, nem pensar. O Brasil é um país onde a circulação dos jornais e revistas cai a cada ano. O povo lê cada vez menos e escreve cada dia pior. Temos um presidente ignorante e boçal, que sensibiliza o povo com a sincera banalidade de suas idéias. Os tropeços na gramática e o primarismo da lógica são cantados como virtude de um homem, que nasceu de mãe desdentada e analfabeta. Glamurizou-se a estupidez. Festeja-se a estultice. Os deputados e senadores serão melhores quando as pessoas forem mais educadas. O Congresso brasileiro sairá da lama no dia que o povo aprender a tomar banho. Nota do Editor: Ronald de Carvalho é jornalista e consultor político.
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