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Opinião
03/09/2005 - 08h18
A volta de Pedro Caroço
Raymundo Negrão Torres - MSM
 

Neste mar de lama que envergonha o país, a figura de José Dirceu deve ser destacada como o principal mentor das trapalhadas que vêm afundando o PT e com ele o governo Lula. Como o fizera no seu passado de falso guerrilheiro, ele agora procura uma nova "cruzeiro d’oeste" para esconder-se e fugir de sua responsabilidade nos crimes de seu partido. Talvez, contando com uma nova anistia da falta de caráter e da desmemoria nacional, como parece ser o caso da jornalista Miriam Leitão que repete babosa elogios ao passado de "Pedro Caroço". A verdade é bem outra.

O mineiro José Dirceu de Oliveira e Silva tinha 19 anos por ocasião da Revolução de 1964. Nessa época, era estudante secundarista na cidade de São Paulo e participava do movimento estudantil, filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Dois anos depois, já universitário, José Dirceu estava totalmente impregnado pelas idéias radicais de seu líder no PCB, Carlos Marighella, ideólogo do terrorismo e da luta armada. No final de 1966, ingressou na "Ala Marighella", transformada, um ano depois, no Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP).

Em 1968, José Dirceu, como presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE/SP), insuflava os jovens a pegarem em armas, nem que fosse uns contra os outros. Foi assim que, no início de outubro, constituiu-se num dos líderes do conflito no qual se envolveram, na Rua Maria Antonia, cerca de um mil estudantes universitários da Faculdade de Filosofia da USP e do Mackenzie. Entretanto, a prisão de José Dirceu - codinome "Daniel" - só aconteceria em 12 de outubro de 1968, durante a realização do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna. Ainda na prisão, acompanhou a transformação do AC/SP na Ação Libertadora Nacional (ALN).

Em 05 de setembro de 69, menos de um ano após sua prisão, foi um dos quinze comunistas banidos para o México, em troca da vida do embaixador dos EUA, que havia sido seqüestrado no Rio de Janeiro, pela ALN e pelo MR-8. Do México, "Daniel" seguiu para Cuba, onde, durante o ano de 1970 participou de um Curso de Guerrilhas, no denominado "III Exército da ALN", também chamado "Grupo da Ilha" ou, ainda, "Grupo Primavera" que, sentindo-se órfão com a morte de Marighella, rachou com a ALN e passou a ser conhecido como o "Grupo dos 28", dando origem à Dissidência da ALN (DI/ALN), mais tarde transformada no Movimento de Libertação Popular (MOLIPO) uma organização de curta e triste história. A maioria do "Grupo dos 28" regressou ao Brasil, a fim de aplicar seu treinamento em ações terroristas. Entretanto, logo após chegarem ao país, os militantes foram caindo um a um, como peças de um dominó. A facilidade com que foram neutralizados mostrou que havia entre eles um informante. Há várias suspeitas quanto à autoria e delas não está livre Zé Dirceu.

No total, José Dirceu permaneceu em Cuba durante 18 meses quando teria feito uma operação plástica nos olhos e no nariz, para voltar ao Brasil com segurança. Mas, José Dirceu só voltou ao Brasil em abril de 1975, quando a luta armada já havia terminado. Com o falso nome de "Carlos Henrique Gouveia de Mello" e uma Carteira de Identidade verdadeira, radicou-se em Cruzeiro d’Oeste, no Paraná, onde se casou com uma jovem de algumas posses da cidade, com quem teve um filho. Anistiado, revelou sua verdadeira identidade, abandonou a família e, no final de 79, regressou a Cuba, dizem que para retificar a antiga operação plástica.

Substituindo Lula na presidência do PT e face às sucessivas derrotas eleitorais do candidato do partido à presidência da República, convenceu a corrente majoritária petista a adotar uma política de alianças, como "ideologia intermediária" para chegar ao governo, o que foi conseguido na eleição de 2002. Mas, assumir o governo - como reconheceu "frei" Betto - não é chegar ao Poder. Para lá chegar, foi montada uma estratégia que, contando com a reeleição, exigia a manutenção de uma base parlamentar, ao que se sabe agora, movida à corrupção baseada em um vasto esquema de assalto aos cofres públicos e usando a cornucópia das estatais e dos Fundos de Pensão a elas ligados. Como anistiado, recebeu uma indenização de 60 mil reais a título de "perseguido da ditadura" além de requerer a contagem como tempo de serviço daqueles anos todos em que seus companheiros tentavam impor uma ditadura bolchevista ao Brasil.

Uma briga menor por uma fatia do botim da corrupção desencadeou a crise que pôs a nu "o patrimônio ético" do PT e resultou na queda do todo-poderoso ministro Zé Dirceu, em uma confissão tácita de Lula de que ele era o responsável pelo esquema sórdido que se pretendeu abafar, como abafado foi o escândalo das ligações de Eduardo Jorge, secretário de FHC, com o juiz Lalau, em um esquema cujo mentor era Sérgio Mota, o "PC Farias" e sócio do então presidente.

"Pedro Caroço" que voltara triunfante como ministro à Cruzeiro d’Oeste para fazer de seu filho prefeito, com o dinheiro que hoje se sabe de onde vinha, volta agora, mais uma vez, de crista baixa, para as comemorações do aniversário de sua neta, fruto e testemunha inocente de uma das mentiras do seu passado.


Nota do Editor: Raymundo Negrão Torres é Gen de Divisão Ref do Exército Brasileiro, foi instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; exerceu, como oficial superior, quase todas as funções de Estado-Maior, especialmente as ligadas às áreas de Informações e Operações. Após passar para a reserva, em 87, dedicou-se à arte de escrever, tendo seu primeiro livro publicado, uma auto-biografia - "Meninos, eu também vi!" - em 1989. É colaborador do jornal "Gazeta do Povo" de Curitiba, membro do Centro de Letras do Paraná, Diretor Cultural do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e Sócio correspondente do Instituto de Geografia e História Militar do Rio de Janeiro. Ocupa a cadeira nº 15 da Academia de História Militar e Terrestre do Brasil (Resende - RJ) e recentemente passou a ocupar a cadeira nº 10 da Academia Paranaense de Letras. Autor de várias obras, destaca-se "O fascínio dos ’Anos de Chumbo’", publicado em 2004.

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